Imprecisos Vagões

Quase duas da manhã

E eu aqui sem pegar no sono

A casa toda em silêncio

E isso é bom

É como uma música composta apenas por pausas

Às vezes interrompidas por ladrões, vultos e serpentes

Insetos e grilos e aves noturnas

O estômago que ronca, o vento na janela

O fantasma na cozinha, o batido nos talheres

Os olhos no espelho, as notícias lá do trópico

Os planos e as falhas, o rapaz tímido e esperto

Os carros e as motos que rasgam o futuro

O vizinho no andar de cima

E uma locomotiva que traz de longe o peso do mundo inteiro nas suas costas, apesar de muito nova para os trilhos

Às vezes tudo isso junto

Mas não de uma vez

Cada coisa no seu tempo

Respeitando a música e o silêncio

Quatro, cinco, seis ou mais coisas para fazer pela manhã

E eu só consigo me preocupar com o andamento da música

A calmaria elegante da alta madrugada

Olhos atentos para não perder de vista a sutileza das pausas quando forem interrompidas da próxima vez.

Poems By Lucas Urudelo__
Enviado por Poems By Lucas Urudelo__ em 05/05/2019
Reeditado em 22/05/2019
Código do texto: T6639633
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