Carta de amor pro tempo
Escrevi uma carta de amor pro tempo e ansiando ver a reação dele, ao recebê-la, fiz a trilha do carteiro.
Revestindo-me da leveza das plumas esperava ser arrastada pelo vento, assim não me perderia nos passos em falso, também não pisaria em terrenos movediços e nem carregaria a poeira nos pés.
Na rua da saudade, sem resistência, sentei num balanço que ninou a minha dor envolta num manto macio, o corpo inteiro padecia, até que avistei as lembranças vindo de mãos dadas com aqueles que acariciaram a minha alma e fizeram cócegas no meu coração de menina, quando ainda não eram um corpo gelado sentido no toque da despedida, antes de tomarem o céu com suas gargalhadas e seus cantos de notas livres, soltas, cheias de amor. A rua ficou pequena para aquela corrente que trazia segurança nos elos, e nos sorrisos emoldurados, a estética da face se consumia.
Na rua da lembrança convidei as meninas pra brincar de boneca de pano, fizemos bolo de barro e servimos café de água com tijolo, para comemorar o aniversário da Aninha que batia palminhas e pra Lu que patinava.
Não demorou muito e os amigos da velha infância, tocando na fanfarra da independência, fizeram sua apresentação tão esperada: as meninas de saia branca de pregas (impecáveis desde a geladeira onde eram armazenadas para não amarrotar) e os meninos de luvas brancas marchavam ao som do hino.
Na rua da idade, encontrei a vaidade andando sem destino, e a cada ano passado, ela perdia sua identidade e porquanto vivia num mundo ilusório que desenhou para si, cria que aquela rua a faria voltar ao início, que pretensão.
Na rua dos encontros, vi tanta história de amor perdida. Por uma carta escondida, por uma palavra não dita, por um excesso de respeito. Vi tantos corações dilacerados passando por tratamentos de desentoxicação. Tantos destroços dispostos ao chão! Um choque... Num choque de realidade.
Na rua da esperança, as árvores frondosas torneavam os sentimentos que aguardavam numa fila única. Esperavm por senha para entrar na máquina que o tempo tinha construído, permitindo uma oscilação ao longo dele. Mas, embora fosse possível ver os erros sob das suas asas, consertá-los era improvável, assim também rebobinar a filme.
E na hora da entrega, os membros tremeram, a respiração fragilizada foi diminuindo, diminuindo, o coração desacelerou e vida foi se despedindo calmamente, até o último suspiro.
A carta caiu das mãos... O tempo cerrou seus olhos e guardou suas recordações na caixa de inspiração das gerações posteriores. A trilha do carteiro acabou.
Imagens ilustrativas retiradas da internet reservados direitos do autor
Escrevi uma carta de amor pro tempo e ansiando ver a reação dele, ao recebê-la, fiz a trilha do carteiro.
Revestindo-me da leveza das plumas esperava ser arrastada pelo vento, assim não me perderia nos passos em falso, também não pisaria em terrenos movediços e nem carregaria a poeira nos pés.
Na rua da saudade, sem resistência, sentei num balanço que ninou a minha dor envolta num manto macio, o corpo inteiro padecia, até que avistei as lembranças vindo de mãos dadas com aqueles que acariciaram a minha alma e fizeram cócegas no meu coração de menina, quando ainda não eram um corpo gelado sentido no toque da despedida, antes de tomarem o céu com suas gargalhadas e seus cantos de notas livres, soltas, cheias de amor. A rua ficou pequena para aquela corrente que trazia segurança nos elos, e nos sorrisos emoldurados, a estética da face se consumia.
Na rua da lembrança convidei as meninas pra brincar de boneca de pano, fizemos bolo de barro e servimos café de água com tijolo, para comemorar o aniversário da Aninha que batia palminhas e pra Lu que patinava.
Não demorou muito e os amigos da velha infância, tocando na fanfarra da independência, fizeram sua apresentação tão esperada: as meninas de saia branca de pregas (impecáveis desde a geladeira onde eram armazenadas para não amarrotar) e os meninos de luvas brancas marchavam ao som do hino.
Na rua da idade, encontrei a vaidade andando sem destino, e a cada ano passado, ela perdia sua identidade e porquanto vivia num mundo ilusório que desenhou para si, cria que aquela rua a faria voltar ao início, que pretensão.
Na rua dos encontros, vi tanta história de amor perdida. Por uma carta escondida, por uma palavra não dita, por um excesso de respeito. Vi tantos corações dilacerados passando por tratamentos de desentoxicação. Tantos destroços dispostos ao chão! Um choque... Num choque de realidade.
Na rua da esperança, as árvores frondosas torneavam os sentimentos que aguardavam numa fila única. Esperavm por senha para entrar na máquina que o tempo tinha construído, permitindo uma oscilação ao longo dele. Mas, embora fosse possível ver os erros sob das suas asas, consertá-los era improvável, assim também rebobinar a filme.
E na hora da entrega, os membros tremeram, a respiração fragilizada foi diminuindo, diminuindo, o coração desacelerou e vida foi se despedindo calmamente, até o último suspiro.
A carta caiu das mãos... O tempo cerrou seus olhos e guardou suas recordações na caixa de inspiração das gerações posteriores. A trilha do carteiro acabou.
Imagens ilustrativas retiradas da internet reservados direitos do autor