AMOR, DIVINO AMOR

Eu preciso cair nos teus braços, minha morada. Seja lá como for, é absolutamente necessário acoplar meu corpo ao teu para que meu coração possa sangue bombear.

Não quero pouco. Não nasci para o suficiente. Treze dias de trabalho de parto e sofrimento de mãe. Treze dias para os juízes do meu juízo discutirem sobre a minha existência. Nasci! Nasci para te encontrar, para conhecer em ti o amor em plenitude. Não há metade, nem retrocesso, nem passado. O Amor te pega pela mão, pela alma... Por ele declamaram Pessoas e Nerudas. Por esse pequenino tirano de arco e flecha, ao batuque do cuore , Vinicius mudou o rumo de sua poesia e Elis transfigurou-se em cascata atrás da porta. Amor vadio de Dona que se dá em flor, que o amado Jorge - mais que escreveu - desenhou para sempre em nossas fantasias.

Dos teus olhos, amor meu, escorre o adeus em toda breve despedida. Não me despeço... Viverei até o fim de meus dias a emoção primeira da tua imagem. O meu encontro foi com o sublime, por isso não espero o grand finale. Em vez disso, preparo-me para a cada dia te irrigar e de novo em primavera te fazer florescer. Quero alargar em girassóis as estradas que para nós sonhamos. Se te trai a memória tua, sou registro, tela, estela onde escreveste meus desejos e tatuaste em carne viva a tua digital.

És holografia criada com as luzes que saem pelos olhos de minha alma, revelando o forte corpo cigano que em palmas e giros me convida pra dançar.

Não há pressa... não te aflijas... Não me aflijo. Embaixo do cobertor imenso que teci para o nosso inverno, finjo não ter medo. Suas cores multicores alegrarão e aquecerão os nossos corpos. Entre bordados beijos das inocentes manhãs vindouras, a luxúria da noite sairá em fumaça lilás de lascívia saciada, purificando-nos, anjos, a cada amanhecer.

De tanto e tanto e tanto sentimento que se desdobra nas dobras do tempo, brotará das nossas mãos o maná pelo qual o mundo tanto clama e em nós se multiplica: alimento divino, divino amor, saciando, enfim, a terra inteira.