Sopra vento ofegante o seu arzinho de ternura sem igual e petrifica essa sensação de arrepio que faz uma viagem pelo corpo a partir do pescoço e termina nos pés descalços sobre a grama verde.

Sopra assoviando uma canção que embala o coração na gangorra de madeira que se movimenta e vai rangindo, formando uma orquestra simples, mas tão singular naquele universo.

Sopra levantando a poeira e carregando as folhas secas para um voo de reconhecimento sobre a terra que foi base para árvore que lhes deu vida e libertou.

Sopra nos chuveirinhos trazidos do cerrado e faz deles um travesseiro de nuvens pra receber as folhas que vão e vem, sem destino, como se brincassem de pique pega da liberdade num voo de parapente imaginário.

Sopra na amoreira doce que tem uma centena na idade, na goiabeira que foi invadida pela erva daninha, no abacateiro cujos abacates escondem os caroços no tempo, sopra no jardim de inverno tão frio por ser solitário, na garagem de madeira de lei e dormentes que segura a rede, sopra no portão verde de entrada e na estrada até ele. 

Sopra e leva para um giro, com calma, como se o tempo fosse seu aliado e para que se sintam seguros. Mas ao avistar os ipês amarelos, donos da casa, mude o ritmo e faça cócegas, para vê-los tão felizes a ponto de se desfazerem em rebentos dourados espalhados na terra seca e vermelha, dando impressão de um tapete natural florido,  que receberá como que num Oscar, a estação do inverno.


 
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 26/04/2019
Reeditado em 28/04/2019
Código do texto: T6633092
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