Viverá eternamente em mim!
A chuva cai, suave de mansinho e eu lembro-me de quando era criança. Como eu gostava de sair para a rua e sentir a chuva “picar-me” o rosto, mas quando ela era mais suave no cair, acreditava que me beijava o rosto…
Era assim que eu sentia… Adorava a chuva, pois podia molhar os meus cabelos compridos, encaracolado que depois abanava, sacudindo a cabeça de um lado para o outro… Gostava de fazer isso, pois achava imensa piada ver o Farrusco, que era o cão da casa do Adro fazer e por isso imitava-o… Quanta ingenuidade maravilhosa!
Que bom ser criança, ser ingénua …
Lembro da minha avó me chamar a atenção “Maria Luz vais ficar doente”... Se o fizesse agora ficaria doente, mas nessa altura creio que não, e depois era jovem, cheia de saúde e nada disso me importava. O que me importava era ser feliz, era viver e sentir a vida… O que não nos mata torna-nos mais forte não é verdade?
E sinceramente, como criança que era eu queria lá saber disso, parava no momento e respeitava a sua chamada de atenção, mas quando via que ela estava absorvida nas suas lides voltava ao mesmo, com a euforia e energia que em mim tinha…
A chuva fez-me sentir feliz na minha infância... Fez-me imaginar, brincar de verdade... Ela, a chuva fazia pequenos "lagos" onde eu molhava os pés, e saltava para dentro e para fora, sabendo-me bem ficar toda chapinhada de água e lama… Nesses “lagos” que não eram mais que poças de água eu punha o patinho mais pequenino que a minha avó tinha e gostava de o ver abanar suas asinhas e mergulhar o seu bico …
A mãe pata não gostava nada, mas creio que nunca se virou contra mim pois sabia que eu era uma criança traquina mas dócil com os animais … Com a chuva eu também tinha “grandes” rios de água que desciam a ladeira em catadupa, onde lançava os meus barquinhos de papel e via-os afundar-se depois de todos encharcados… Pobres barquinhos, naufragavam depressa demais…
Da janela do meu quarto, vejo a chuva cair, e reavivo memórias, doces momentos, e pondo a cabeça de fora, e sentindo a chuva a “picar” o meu rosto sinto a criança que em mim vive… Sinto a criança que fui, que sou e que viverá eternamente em mim!