ALEGRETE ALEGRINHO
Entro na minha cozinha e o cheiro de figos me invade. Paro diante do granito escuro da pia e começo a cortar as batatas. Batatas brancas e doces. Coloco-as na caçarola com um pouco d’água e espero ferver. Gosto da minha cozinha como gosto do meu escritório. Diante de meus olhos estão os talheres e os pratos a secar. No alto, ramos de oliveira. Flores secas dependuradas junto a raminhos verdes olhando para baixo. Os vidros coloridos carregam pozinhos para pintar ou adicionar sabor aos alimentos, são os temperos. De repente, já estou sovando uma massa com farinha e ovos. Amo ovos caipira coloridos. Sempre guardo as cascas porque penso em pintá-los e fazer uma osterbaum permanente. Uma árvore da Páscoa para ornar o centro da minha sala. Por que não? Na minha casa cabe tudo o que é lindo. Abro um vinho e coloco um Vivaldi na vitrola. Que alegria! É a primavera? Da minha janela, vejo a chuva vindo em ventos frescos. A cortina baila um alegrete e eu mesma já estou um tanto alegrinha também. Adiciono as batatas à massa de ovos e vou modelando o nhoque. Minhas mãos estão aquecidas, assim como o meu corpo. De repente, sinto um enlace no quadril. É o meu marido que vem vindo? Mas, eu não tenho marido! Como não? É o vento! É o vinho!
@adelaidepaula