OS AMORES NAS ESQUINAS DA POESIA E RILKE PARA O INFERNO!
Espero a noite algazarrar a pista vazia do meu coração transbordando de aquém e além a esperança de encontrar, nos gestos e sussurros, um tempo de delicadeza.
O primeiro amor morreu.
O segundo amor morreu.
O amor da semana passada também morreu.
Abri a porta de minha casa e topei com a sina maldita de ser poeta. Sina de arranhar os cadafalsos do cotidiano e armar balões pra fugir da realidade mequetrefe. Sina de revirar guanabaras, tal qual escafandrista. Abri a porta e vi que atrás da porta não há passado, não há transeunte sensível, um buquê, alguma expectativa. Abri a porta e notei que o delírio do futuro é a mais importante nau de quem se entregou, para sempre, ao deus-dará.
Pois agora, o meu relicário não é meu bem, porém, nessa-rua-nessa-rua-tem-um-bosque-que-se-chama-solidão. As árvores petrificadas impedem o derramar de lua espezinhante. Dento-dele-dentro-dele-não-mora-um-anjo. É possível, então, abrir clareira? Mais vasto, diria Drummond, é o coração.
Pego a bússola e estilhaço-a no chão. Rasgo os meus diários e deixo Rilke partir para o inferno da insensibilidade e reverência inaudita.
Qual esquina me espera?
Quem dar-me-á a próxima cabana?
Terá olhar grave ou de graúna melancólica?
Derreta-me ou afogo-me!