NADA ACONTECE!

Escrever mesmo, não tenho escrito nada.

Nada Mesmo.

Nada em mim acontece.

Árido, seco mesmo, digo-me já em mimesmado.

A mim de quando em quando ocorre essa necessidade de saber das coisas pelo processo do escrever para ver sair o que dentro barulha.

Mas hoje, nada.

Nada mesmo.

Queria agora que chovesse.

Chovesse muito.

Chuva densa, de grossas gotas, contínuas.

Dessas de causar arrepios de estranhamento e delícia no tocar das gotas nos pelos da recém formada sensibilidade da pele quase seda do corpo dos sonhos das pessoas de primeiras planagens, ao serem surpreendidas por debaixo delas, em seus primeiros passeios nocturno, por sobre o morno e frio do piso do mundo dos pássaros.

Chamo de piso, assim por ter eu pés, a pisar o duro do chão, o que intuo ser para os pássaros deve o duro do ar, que faz do debaixo das asas deles assim tão pés, como os meus sinto sendo.

Meu saber escreve coisas que não sei assim no certo.

E no não sei do se quero entender assim sabido para em conversa falar, é que intuo um saber mais claro, um que nem desses que lagartas deve de vivenciar, quando dos casulos agora já sendo em parte outras, saem.

Um saber vivido, inteiro, como quem enxergasse também para traz, simultâneo, e desse modo pudesse em todas as direções.

Um saber limpo, como acabado de nascer de um Santori.

Mais não o sei assim no claro do me sentir sendo.

No certo do já sabido, Intuído.

No apalpado da forma, sozinho.

No conforto distraído do não ter dúvidas.

Mas quero, na clareza do novo, da maneira como crianças das roças de povoados pequenos, de cócoras à beira das enxurradas das chuvas quentes do verão, veem águas sendo pela terra bebida; bebida com esponjosa gula da sede das areias das terras secas do entardecer dos dias de sol a pino, do não chovido a tempos contados; e, presenciando, elas, por tempo alargado, o viçoso e efêmero do jorro, vêem, vêem como as texturas e veios de areia, nas enxurradas vão sendo moldados.

E, sem terem pai no agora para contarem, nem mães para adivinharem em seus espantos, a alegria de sentirem nessa experiência um saber, uma possibilidade de ter umas coisas assim só suas, entreolham-se quietas e: - viu?

Agora sabemos como as texturas e bancos de areia aparecem aqui no caminho de casa.

Orgulhosas e cheias de si, sentem apropria-se do novo, o entendimento delas.

É… mas hoje, nada.

Seco.

Vazio.

Árido,

Nada.

Nada acontece...

Jeronimo o Simples
Enviado por Jeronimo o Simples em 17/04/2019
Código do texto: T6625541
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