LOHENGRIN E OUTRAS VALSINHAS AO ETERNO
“Sim, se não for pra sempre
Vai ficar pra sempre
Que a gente lembrar…”
(Oswaldo Montenegro)
Doravante, cantaremos ao amor. Doravante, cantaremos em terceira pessoa, no infinitivo do plural. Cantaremos a Alva que nasce delicadinha e miúda, por descuido de Anchieta. Cantaremos aos três séculos besuntados de salivas e unguentos, às orquídeas e rosas brancas, às geometrias barrocas das notícias amorosas.
A uma polegada de distância do Palácio de Estado e da Academia Espírito-Santense de Letras, no Centro de Vitória do Espírito Santo, há a Igreja de São Gonçalo.
O transeunte sensível percorre uma partitura de filarmônica experiente. As fortes notas de Bach que estremecem as escadarias amarelas tornam-se harmonias de pintassilgos e querubins ou sonatas do flautista de Hamelin, a medida em que se aproxima do Templo Sagrado. Cantares de Salomão perfumam os ares com fragrâncias de maçãs e uvas-passas.
Outrora, nesse espaço havia uma capela consagrada a Nossa Senhora do Amparo e Boa Morte, construída pela própria Irmandade. Em 1715, todavia, o Bispado permitira edificar uma Igreja dedicada a São Gonçalo Garcia. De pedra e cal ergueu-se a mais delicada sede religiosa da Capitania de Vasco Coutinho. O trabalho lapidado em forma arquitetônica barroca concluiu em 1766. Seus portais e janelas em azul-Cáspio convidam às hóstias e profecias celestes que espraiam no mortal a incorruptibilidade da fé. Seus desenhos monumentais entalham no ser humano o selo do Divino. Suas estátuas e imagens violam os baús da insensibilidade. As lágrimas de candura e mistério rolam nas faces iluminadas por Deus Nosso Senhor.
No Altar-mor de madeira, há as duas maiores preciosidades do Espírito Santo: a imagem de Santo Inácio Loiola e São Francisco de Xavier. Cada qual em seu lado sacro, comunicam-se desde o século XVII por línguas estranhas e irreveláveis aos homens. O silêncio responde mais que todos os burburinhos e tremores de guerra que assolam o Planeta Terra.
A Igreja de São Gonçalo é, na tradição popular e graças a uma lenda mediocremente lírica, a Igreja dos casamentos duradouros e felizes. Quase que diariamente seus sinos badalam núpcias cravando a linha fecunda da fidelidade e entrega na epiderme dos dias comuns. Por isso, é a queridinha de todas as noivas da Capital. O Feminino, por gorjear sempre pelo rastro de Eros, espera anos para entrar com véu e grinalda nas possessões de Gonçalo.
O Amor é colcha de retalho, é um sonho breve dos que vivem, é roupa que descansa enquanto a cama arde, freneticamente. Nada é eterno e Cronos desdenha das ilusões humanas com sua boca murcha e desdentada. Nos delírios piegas é que forjamos uma canoinha para longe daqui. Solidão é condição humana. Ir à “terceira margem do rio” acompanhado pela parte desejada é mais que um te deum, é o próprio Deus benzendo a felicidade candeeira. Assim seja!