Valsa carioca nº 1 (Allegretto scherzando)
Vida, questão de sorte,
morte, regra do jogo.
Fogo, tiro, corte
aos que já trazem
o luto na pele.
Quem dera o delírio
pudesse justiçar
o martírio de existir
preto e não branco.
Quisera a branquitude
abrandar a dureza,
verter clareza
de sua própria palidez.
Ela, que vê a vez do outro
chegar, tombar à terra,
berra em seu âmago
toda a escuridão
contida em si.
A omissão e o deboche vieram,
valsaram por sobre as covas.
Por suposto, comemoraram
a longevidade de seus prazeres,
talvez, por mais oitenta anos.
Oitenta carnavais.
Oitenta tiros.