SHERAZADE

É noite! Chegas sorrateira entre sedas em meus sonhos. De ilusão em ilusão, mil vezes me despeço da morte entre cheiros e sabores que saem de seus lábios. Em mil e uma manhãs de sol, sinto o sangue abaixo do meu ventre em espada de vida ressurgir. E te amo nos mágicos tapetes que teceste com os fios mágicos da vida, realçando em ouro e seda o rústico algodão da existência.

Mais uma noite vem... De bruços te deixo ungida em óleo de perfume intenso, e de joelhos te peço uma história em prece, de um novo mundo onde eu possa, depois do depois do amor, ser mais balança que punhal.

E sendo assim, a cada encontro, a vermelha rosa é portal da flora encantada em que me perco, me despedaço e me refaço: cavaleiro menino solto em sonhos. Cerro a porta da tenda, de onde me escondo da memória, banhado em sangue, suor e lágrimas - passado do qual me retiro, aconchegando-me em teus braços que me envolvem a cada volta no baile eterno do tempo, onde o amor é lei e a verdade é servida em banquetes de aceitação.