sobre mim. e minha obra.
A vida que vivo agora, eu vivo com lucidez. Não tenho medo do engano que cometi outra vez. Outrora fui descuidado, não vi as cores nas mãos, o arco-íris nos olhos, o mar, as flores no chão. O tempo sempre vencia no duelo da razão, era o tempo que ditava as regras do coração. Se chovesse era frio, se esquentava era verão. Acreditava nas formas, no vento da ilusão, Num Deus que tudo fazia sem a minha intervenção. Se caía a tempestade na noite escura era a morte que reclamava da vida os descontos da má sorte. Não fugia atrás de abrigo, pois sabia que era o fim, para apagar os pecados do meu modo mal, ruim. Aceitava o veredicto do Juiz da consciência, que carregava consigo a espada da inocência. No tribunal da justiça dos homens cegos de medo eu sempre fui réu confesso, não escondia segredo. Julgado fui condenado a viver em liberdade, sobre a pena de ser livre dos meus atos responsáveis, com a desculpa de que Deus fez do homem uma fatalidade.
Livre ando, em paz respiro, da ansiedade fui curado, não me perco em pensamentos em suspiros de saudade, de um tempo mal vivido, visto as roupas do futuro, do passado fui despido...
A minha percepção além das formas, a minha aurora mental se deu aos quarenta, no estágio mais confuso da minha existência. Disparei minha flecha no escuro buscando um ponto de luz que seria a razão para garantir o meu existir. Meus olhos então se abriram diante do sol de liberdade racional. Tudo quanto me parecia certo se desnudou, como erro da minha visão turvada pela ignorância hereditária, tirou o disfarce, eu pude enxergar claro e definido. Foi como se eu fosse arrebatado do meu entendimento comum, de uma idiossincrasia culto-social para outra esfera de racionalidade. Fui conduzido para outro extremo filosófico existencial. Tive a força que desconhecia outrora, como um cego que ganha em um milagre, em um toque divino a visão perfeita. Tudo estava às claras aos meus pés, tudo ao alcance da mão e, com o tocar da minha pena na superfície limpa de uma folha de papel desenhava eu toda a verdade que fosse preciso vir à luz, como lei ou princípio a ser por mim seguido. Descartei toda bagagem que havia adquirido até então. Pois aos olhos dos meus contemporâneos me tornei vazio, ou descrente de toda fé existente. Meu caminhar não se encontrava em nenhuma doutrina até hoje conhecida pelos homens. Tornei-me de fato um solitário-feliz. A compreensão de todos os valores foi a causa principal da minha descrença em todos os credos sociais. A revelação da hipocrisia da humanidade da qual eu fora o hipócrita principal. Foi dolorida essa transição de “valores” pois me tornei dono de segredos que não podia dar à luz em meio ambiente tão hostil. Ninguém compreenderia a língua nova que aprendera a golpes de machado sobre a minha consciência. Passei a ter crises que beiravam a epilepsia, sobre o efeito da hipertensão que eu, não raro provocava com efeito da cafeína natural. Então escrevia no limiar da lucidez nietzscheana, entre a glória da loucura; textos sublimes de sensibilidade estrangeira para os mais sábios dos homens que hoje vivem. Constatava esta verdade ao dar para lêem, a alguns mortais, que desconversavam, diziam se tratar de poesia, por isso não arriscavam uma classificação ou uma nota. Confessavam: “é confuso, porém muito interessante”.
Esta pequena apresentação é simples e unicamente minha preocupação justa para que, não tentem compreender aquilo que não lhes dêem direito à interpretação.