Os miseráveis

Fome,

tu es a mãe da revolução.

Nascestes do sonho burguês,

das chagas do camponês.

Dai-nos o pão!

Dai-nos o pão!

Ora ora!

se não tem pão,

que comam brioches.

Sádica víbora,

cobra felina.

Ai de ti...de todos.

Aos amigos,

meus favores.

Aos demais,

a minha lei.

Eu sou o sol...o rei.

Temido ou amado.

Sou a chave ... a prisão.

A cura...as dores.

Desesperado populacho,

o próprio sol os inflama.

Pobres almas esquecidas,

meras pontas de lança.

Ergam as vossas flâmulas,

a luta é a única esperança.

Por Deus,

pela França!

Terra, paz e grão...

Terra, paz e grão...

Rousseua,

convoque as línguas de fogo.

Que o antigo regime se abale,

abram as vossas cartilhas.

Iluminem,

oh,Liberdade!

Iluminem,

oh, Fraternidade!

Iluminem,

oh, Igualdade!

Ingênua tornou-se a vida,

brinca na praça com a navalha.

Deus, nos valha!

Chora,oh, mãe pátria!

Clama por teus filhos.

Aos gritos , ela pede.

Não os trate como párias!

O velho mundo se abala.

O velho mundo se abala.

Miseráveis Sans-culottes;

que Deus lhe dê a boa sorte,

a boa morte.

A tempestade se levantou,

é a Bastilha.... Versalhes.

Ante que esta noite se dobre,

tudo há de cair....,

tudo há de cair.

Lutarei contra este medo,

abaixo a servidão!

Nada mas de chicotes,

resistirei aos açoites.

Quero um naco de pão,

uma terrinha no feudo.

No céu, o grande dragão,

longa são as tuas assas.

Do fogo só restam brasas,

trevosa inflação!

Peste,

por quê nos envia os banqueiros?

São aves de rapina,

devoradores do dinheiro

Tudo lhes interessa,

até a nossa dor.

Ratos,

queimem nos infernos!

Tristes tempos da incertezas,

a fome nunca foi boa amiga.

Já não há mais colheitas,

chorem barrigas!

O pranto ganha à noite.

O que será de ti,

oh, mãe pobre!

Triste sorte,

meu coração por ti dói.

Lamento por teus filhos.

Nem mesmo céu coopera;

ainda por cima,

este inverno.

Falta-nos tudo,

menos a guerra!

Miseráveis,

todo fogo sobre vós agora ardeis!

Arde!

Renegadas almas esquecidas;

camponeses,

sapateiros...artesãos.

Os filhos pobres dos burgos,

dos guetos... da solidão.

Eu agora os escuto!

Eu agora os escuto!

Vós sois mais que a realeza,

os verdadeiros filhos de Deus.

Alto clero,

por que os rejeitam?

Não vê?

O povo também sente fome,

sede.

Toda miséria os consome.

Abaixo as vossas púrpuras,

a toda luxúria.

Eu os desprezo.

Tudo isso é loucura,

insensível loucura!

Luiz..Luiz!

Paris vos chama,

também vossa rainha.

Não os deixem a esperar na praça...

Pobre corte!

O populacho esta insano;

agem como vampiros,

querem sangue.

Sangue á taça.

Dezesseis, ao cadafalso.

Há um caso de amor,

é a multidão e o carrasco.

Famintas prostitutas,

tão desinquietas se oferecem.

Já não há pudor,

toda maldade esta nua.

O sexo tomou as ruas...

Ninfomaníacas, não se saciam.

Ainda hoje dormirão com a verdade.

Nobre rei, veja aquela.

É a jovem guilhotina,

de todas, a mais sádica,

Ama recitar versos ao terror.

Percebe, ela o deseja.

Lhe quer na cama.

Se apronte realeza,

a prostituta não espera.

Dispa a tua roupa,

faça a tua prece.

Guilhotina não mente,

sexo necessita calor.

Ela vos ama!

Ela vos ama!

Autor: Francisco de Assis Dorneles.

ChicosBandRabiscando
Enviado por ChicosBandRabiscando em 03/04/2019
Código do texto: T6614727
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