INQUIETUDES DE UM POETA

Ah, senhora do meu infeliz e trágico destino, não entrelaces sobre os pensamentos meus, a tua rubra e fascinante face. Não vês que no céu, os pássaros já cantam junto aos anjos o nosso adeus? Como dói a alma inquieta de um infeliz poeta, deixar-te neste mundo, minha amada! Até quando meu Deus, apenas os astros a contemplarem a linda face daquela que um dia se derramou como líquido quente em meus braços, a banhar-me a vida de amor? Meu olhar opaco já não reflete a tua doce imagem nos espelhos desta alma, e não hão de reluzir reflexos, resto de existência. Homem desintegrando como asteroides sobre um céu de nuvens cinzas contemplando pensativo a sua dor. Ah, efêmera passagem! Imagem pálida, corpo sem calor. Não tenhas pena de mim... Pois, vivi o necessário, povoei a minha vida de versos, rimas e poemas, e pela causa abolicionista, me encantei. Caminhei sobre senzalas, senti o cheiro e o sangue da crueldade, segurei nos braços de tantos que agonizavam implorando a liberdade. Voarei como andorinhas, e sentirei os sopros sagrados a enxugar o meu suor e, assim, serei pássaro a contemplar outros horizontes ainda com mais amor.

Psicografia de Castro Alves

TEREZA GUEDES
Enviado por TEREZA GUEDES em 01/04/2019
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