Mulher Maravilha

Agosto nublado, Luanda já há muito se afastara das chuvas, tudo era seco como eu.

O céu tinha as torneiras fechadas por mãos pesadas e a única água com a qual banhava era a que escorria das lágrimas extraídas sem esforço, com as quais mantinha conversas quase sempre.

Não tinha muito por que lutar. Sentimentalmente desidratado, a umectação que fazia não resultava em nada, a depressão havia completado mais uma risonha primavera e como um caminhão a cambalhotar em pleno asfalto abismal eram os passos que eu dava em direcção à minha morte.

Consubstanciadas as razões de viver a querer dormir para nunca mais acordar, durante essa guerra comigo mesmo, eu era espião na terra da positividade, onde ouvi falar de ti e ao tentar fugir para as salas do fundo do isolamento caí em Temiscira, a ilha paradisíaca a que chamas casa. Voltei a sorrir verdadeiramente.

Estendeste teus braços e, docilmente, meus lábios abriram-se de alegria e acompanhei o teu sorriso. Vi em ti uma obra dos deuses, escondida de toda a humanidade, num lugar fictício para os descrentes, no lugar propício para quem do homem tem medo.

Quando achei que minh´alma já fugira do meu corpo, dei por mim com uma visão bem mais apurada. Por entre amazonas destemidas com roupas de combate, meus horrores saíram pelo portal que me lançou ali, e tu, como arma que mata os deuses, consumiste toda garra do Olimpo.

E o Ares em mim ajoelhou-se perante a paz no meu coração. Teu nome esculpido no oxigénio fez meus sentidos acordarem, passada por eles a imagem de quando Zeus deixou seu sopro cair em tuas fossas nasais e fez com que ganhasses vida até que um dia parecido chegasse.

Não disseste muito, ataste meus braços com a corda que compele à verdade, tentando saber o que fazia eu na tua vida.

Sem saber como responder, sem ter uma resposta sequer, esforcei-me até chegar aos teus lábios e agradecer com um beijo pela forma como mataste os inimigos que prendiam meus desejos.

É daí que tinha vindo e para onde ainda não consegui voltar, a tristeza enraizada, a fraqueza espiritual que não me conduzia a nada. Como já conhecias bastante o mundo exterior, não te quiseste arriscar numa aventura alienígena, até que te deixaste levar e por esta via fizeste renascer o melhor em ti.

Fizeste resplandecer o que mais ninguém via: os teus poderes especiais, embora nada pareçam, mulher maravilha.

Widralino
Enviado por Widralino em 31/03/2019
Reeditado em 31/03/2019
Código do texto: T6612109
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