ALMA ARREMESSADA AO CAIS
Quem de vós nunca sentiu seu coração como um velho barco a vela, que após tanto tempo de mar, fora arremessado ao cais das areias tórridas de qualquer lugar? Fostes esquecido, assim como eu junto a ventania. Meu amado também me abandonou... Meu coração era como tu, lindo, no peito meu, a navegar. Sei bem, barco esquecido, como era velejar. É impossível evitarmos a corrosão, resultado do abandono e solidão. As minhas veias e artérias estão impregnadas de ferrugem e, sem emoção, mas, mesmo assim segue batendo esse infeliz coração. Já por mil vezes me desintegrei como se, só o meu corpo estivesse aqui. Minha alma fora roubada, arremessada em algum pântano lamacento do cruel e solitário lamento. Ah! Quantas vezes declamavas minhas profundas e eruditas poesias? Fostes meu Adônis que, sobre mim navegavas e hoje em outras águas flutuas, mas levarás para sempre o cheiro da maresia de Minha praia e do meu encantador mar. Um dia, meu espírito irá se reencontrar, seja no leito de um rio chamado saudade, ou em um oceano, onde possa conhecer um verdadeiro amor.