PÂNTANOS DE UMA ALMA
A vida anda a galope, corro para me encontrar e não me alcanço... Meus inimigos não descansam, necessito um pouco de compreensão e abrigo, mas tudo é deserto! Vejo nos campos, trigos e flores de algodão e, ao deitar-me na relva me entristecia ao recordar-me da agoniada, incompreendida, solitária e angustiada vida. Os tufões varrem as lembranças longínquas do meu único e verdadeiro amor! Os raios destroem as pedras e rochedos, mas não arrancam de mim, o coração.
Mate-me, mas não ouves, egocêntrica e desgraçada morte, o suspiro ofegante do meu agonizante espírito. Sou filha das dores, da agonia, das torturas psicológicas que habitam em mim, onde feridas profundas fazem morada em todo meu Eu. O sangue da minha carne jorra diante da brutalidade humana, misturam-se ao entardecer com as gostas de orvalho. Diante o espelho, já não vejo o meu sorriso, que há muito tempo se desfez com a minha alma naufragada nos pântanos imundos e obscuros da desilusão. Diante os açoites, sobrevive ainda minha dignidade, mas não desejo que o sol envolva o meu corpo como um xale, um cobertor, pois já não possui o poder de aquecer-me. Em minha alma, faz morada um iceberg impossível de ser quebrado e, só tu fria morte, como a Antártida, poderá arrastar-me aos sepulcros dos vermes menos desprezíveis e asquerosos como determinados homens. A ti entrego um exausto e tatuado corpo, com as cicatrizes de minha agonia. Minha existência não passou de um mero engano! Que venham os cânticos das arapongas tristes, a lápide isolada e fria sobre as sombras dos ciprestes, pois voarei mais alto que os abutres de Eritréia, e deixarei para trás a carnificina dos seres impuros e, quem sabe exaurida, algum anjo estenda sobre mim, suas asas, e leve-me a contemplar o céu.