JOANÓPOLIS
Nair Lúcia de Britto
Não conheci a cidade em que eu nasci, Joanópolis, porque saí de lá bem pequena. Mamãe costumava me dizer que era uma cidade minúscula. Apenas algumas casas ao redor de uma Igreja. Todo mundo se conhecia, e a vizinhança era muito unida e solidária.
-- Um dia vou te levar para conhecer a cidade onde você nasceu – ela prometia. Era um grande desejo dela, mas nunca aconteceu.
Nasci em casa, pelas mãos de uma parteira. Era assim, naquela época, numa cidade do interior. Meu pai, feliz da vida, por ser pai, foi festejar com os amigos. E a vizinhança cercou minha mãe de carinho e de presentes: era galinha, pato, bolo, sopa, um manjar, coisas assim...
Nasci em Joanópolis porque meu pai, funcionário público, tinha sido transferido para trabalhar lá, bem como em outras cidades pela redondeza: Salto Grande, Atibaia e outras mais. Era dureza para quem estava acostumado às regalias da cidade grande como São Paulo.
Além do desconforto, mamãe também sentia muitas saudades dos pais e dos irmãos dela. Então papai permitiu que nós duas fôssemos morar provisoriamente com meus avós, em Santos, até que ele conseguisse transferir-se para o Litoral.
Na casa do meu avô, fui recebida com beijos e abraços e muito afeto. Lá, eu fui muito mimada tanto por meus avós como pelos meus tios. Eu, por minha vez, lhes levei muita alegria com as minhas peraltices, das quais eles achavam muito graça. Principalmente quando comecei a falar as primeiras palavras, com um sotaque bem caipira.
Meus tios não foram só tios, foram também de certa forma meus pais. Cuidavam, se preocupavam, tinham um carinho imenso por mim. Por isso que até hoje eu me lembro de todos e rezo por eles, que estão lá em cima, com o mesmo carinho que me transmitiram.
A vida do meu pai, lá em Joanópolis, não era fácil. Não só o trabalho que era dureza, mas também bastante difícil para ele ficar sozinho. Escrevia cartas amorosas para minha mãe e me chamava de Nairzinha.
Sempre que conseguia uma folga, meu pai vinha nos visitar, com os braços carregados de presentes. Nessas ocasiões, nos levava, eu a minha mãe, a bons restaurantes e a passeios pelos parques.
Foi assim o início de uma infância muito rica; rica de amor e na qual eu aprendi, muito cedo, que só o amor pode nos fazer feliz!
Arte: Joanópolis – Colagem de Silvio Alvarez