Capricho

capricho

por Rodrigo Martins

sinto-me atraído,

quase preso em um feitiço,

desejo de sumiço.

como pode isso?

é gostoso,

o gosto doce do desespero,

nem sequer ter um espelho,

nem sequer força, ou desejo,

de levantar-me, olhar-me

e lutar de novo,

a derrota é eminente,

a tristeza impregnante,

a certeza é reconfortante,

essa cama com lençóis cortantes,

são como comprimidos calmantes,

um dose por dia para sentir-me,

ambulante.

não existe fadiga maior,

que essa dor de estar só,

nessa maré de guerra de somente um homem,

nesse campo de batalha do ambulante,

que navega entre as vozes,

rasteja entre os risos,

que divaga entre sumiços,

totalmente submisso,

as imposições do destino,

corroe-me os tímpanos,

esse sussurro em meus ouvidos:

por enquanto você ainda está vivo,

mas morto por dentro,

para meu puro capricho.