COLECIONO VIAGENS DE ÔNIBUS

Tudo se inicia dentro de algum ônibus.

Algo sobre ônibus sempre me fascinou. Não sabia ao certo se era porque era como um carro, só que mais confortável. Se assim como o avião, levava pessoas diferentes para o mesmo destino ou simplesmente pelo ar poético e nostálgico que o ônibus carrega.

Foi dentro de um ônibus que entendi o que era estremecer com um toque, quando no início da adolescência acarinhava as mãos do meu primeiro amor. Foi dentro de um ônibus que anos depois conheci um outro homem, no qual me deitei pela primeira vez. Foi dentro de um ônibus que eu chorei sozinha, escrevi, fiz performance na minha música favorita e aprendi a apreciar minha companhia.

Sempre uso minha imaginação até a última gota, me seguro para não sentar ao lado do velhinho desconhecido e perguntar o que o levou até ali. Observo, faço suposições. Será que aquela mulher está indo visitar a família? Será que o seu destino é onde ela aquece o coração? Será que vai encontrar o marido? Será que ela tem marido? E se for uma esposa? Será que ela assim como eu, também gosta de ver gente? Quem sabe ela também observava alguém e se perguntava essas coisas.

Sempre que pego um ônibus, me equipo de fones de ouvido, celular carregado com todas as playlists baixadas, diário, caneta e algum livro. Quem olha de longe deve pensar que estou de mudança, ou talvez não pense nada. A paisagem vista de dentro do ônibus é mágica, tudo fica mais intenso. Vejo corpos cansados, almas ansiosas, crianças chorando, pessoas dormindo, vejo o mundo inteiro dentro de um protótipo de casa cheio de assentos. No ônibus me sinto revigorada, me sinto pronta pra começar de novo, pra chorar de novo e pra amar de novo.

Chego ao destino sempre me perguntando quando será minha próxima viagem.

Ayala Mariane
Enviado por Ayala Mariane em 13/03/2019
Reeditado em 13/03/2019
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