Ao amor que não tive

Você é o homem, o ser notável, do qual o destino eu não cruzei.

Será o tal que cruzará meu caminho, num dia de jornada que me apresentarei?

Eu jamais teria a pretensão de prende-lo ou fazer-te meu se assim não o quiseres.

Se viesse na hora em que deveras me desejasse além da vaidade seria sua e de ninguém mais.

Não me entenda mal, eu sou completa, sou um mundo sozinha, mas sei que posso acrescentar, cada universo necessita de sua galáxia, cada fragmento tem seu par.

Eu sei que nunca te encontrei, mas se estiver me esperando e eu me demorar irá desistir de mim?

No fim de uma tarde de sol ou mesmo num cinzento dia nublado, irá me reconhecer?

Te peço que não fuja por medo do prazer.

Eu vivi até aqui sem muito ver, padeci de fome e eternidades de inércia jejuei.

Nada tive nem nunca ninguém me deu nada na intenção de o dar, sem interesses ou expectativas de trocar.

Eu doei mais do que pude, e minha alma quase feneceu, paguei um preço que muitas vezes não foi alto, mas tudo que tinha, o preço do adeus.

Eu fui coragem no caos, grito no silêncio e ousadia em meio a multidão vazia. Eu fui brilho que não se apagava numa esquecida estrada fria.

O tempo, as feridas e fantasias demolidas me esfriaram a alma, que úmida jazia.

Eu já fui devaneio e sonho, hoje sou dose de ironia, com a realidade me curei.

Não há muito de mim, mas sigo sorrindo, o que me resta viverei.

Ainda sou a mesma garota que um dia sorriu pela primeira vez apaixonada por uma miragem e realmente acreditou que teria seu final feliz.

Como uma leoa cacei, mirei o alvo e joguei pra ganhar, mas apostei em ilusões perigosas e sucumbi.

Meu instinto de caça foi perdido, não espero ser a presa, eu cresci.

Não vou acreditar em tudo de belo que me for dito, mas agradecerei, o confesso.

Já fui mulher submissa, perdida, já fui usada, sangrei abusada, hoje sou dona de mim, eu mereço.

Se cruzar meu caminho sem me enxergar, passe através de mim, você será mais um.

Mas se sentir meu cheiro e assim ficar, não serei invisível, em meio à tentações variadas te farei sentir, se pegar a minha mão estarei aqui para te ouvir.

Não sou uma promessa fácil nem serei seu desejo passageiro, antes sou sozinha.

Meu amor, que nunca se apresentou, não sei se a vida toda vale a pena unicamente para te esperar.

Se até hoje não chegou, sei que devo viver sem o amor.

Prefiro acreditar que no fim do túnel há a luz, mesmo que morra de saudade.

Saudade do que nunca tive, mas saberei reconhecer na hora da verdade.

Quando for meu terei a certeza que é você, pois me enxergará no escuro, se um dia esse encontro for possível transporei o muro.

Então voaremos e finalmente nos acharemos em meio às sombras.

Verei que lá no fim estava você me esperando enquanto eu te aguardava, numa única porta,

numa única trilha cercada pela imensidão.

E ali você saberá que terá o meu coração.

Então nós finalmente entenderemos o porquê de tudo, a avidez fará sentido, trazendo mais desejo adormecido que nutriremos e desfrutaremos no néctar um do outro, num só corpo.

Em que me terá em que te amarei, em que te susterei em que me perderei.

Para o ser amado que não encontrei.

Helena Dalillah
Enviado por Helena Dalillah em 07/03/2019
Reeditado em 07/11/2019
Código do texto: T6591494
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