O QUE VOCÊ PRETENDE?

De que alegria você fala

se estamos na sala assistindo televisão,

separados por uma almofada

entre a minha e a sua solidão?

De que riso você fala

se nossos lábios cerrados estão mudos,

se até o silêncio por aqui se cala,

se já não cabe mais nada no nosso tudo?

A que explosão você se refere

se o referido barulho é só um choro,

se nossos estampidos, se assim prefere,

se calam por falta de vontade e de decoro?

Que melodia você está cantando

se ninguém uma palavra sequer dessa letra

entende quando você murmura ou está falando,

a sua boca cheia de leite não solta essa teta?

Qual opinião você diz que agora está tendo

se a sala está vazia e o plenário, em pleno carnaval,

está dormindo em seu estábulo e, quase morrendo,

a decência, abraçada ao bem, se protege de todo mal?

O que você pretende quando sai à rua e vê cada um

arrastando as correntes do bloco que nunca se sacia

nem com nenhuma lei escrita por político nenhum,

nem com bebida, nem com churrasco e nem poesia?