A batalha do ansioso
Achava incrível a capacidade que tinha em permanecer sereno diante de todo o embate que havia por dentro. Tamanha era a guerra que os sintomas se tornaram físicos; podia sentir que o estomago duelava com os rins, o figado com o intestino ou vice-versa. A briga maior (como sempre fora) estava em sua mente, dentro dela podia sentir cada neurônio sendo dissecado pelo excesso de pensamentos desnecessários, ávidos por conclusões, respostas e justificativas. Pensava e repensava cada atitude, cada palavra. Cada neurônio era um soldado que combatia um argumento com outro, mantendo assim a confusão em andadura. Era como jogar xadrez sozinho, de alguma forma você acaba se tonando parcial, deseja que um dos lados vença, nem que seja para que o jogo tenha logo um fim e você possa em fim descaçar. Por mais que o um dos lados esteja munido de melhores motivos, razoes e argumentos, era sempre seu o voto de minerva, e ainda assim não sabia o que fazer co ele.
Cessavam os conflitos como pequenas tréguas, sabia que era sua alma que entrepunha-se na luta evitando seu total colapso e tão logo essa se distraia a batalha recomeçava em todos os pontos do seu corpo. As baixas eram tantas ao final de um dia agitado que se sentia débil, um torpor, como entrada em um transe, passear por uma densa neblina. Pausa. Não queria mais conflito; nunca havia desejado nada daquilo. Tão só não o queria como estava decidido a por um fim naquilo a qualquer custo, mas isso queria dizer tomar as rédeas da situação e como soberano de si se impor ao seus sentimentos e seu subconsciente, se impor a sua mente pensante, pulsante e paranoica. Ser o governante de si, o general supremo de ambos exércitos exigindo o sessar fogo.
A humilhante sensação que não controlar a si mesmo, seus pensamentos e vontades de mudar a realidade das coisas. Haveria ainda alguma esperança de recuperar-se? De impor sua dignidade acima dos desejos de seu ego? Não houve tempo suficiente para a fatídica reflexão e mais uma batalha havia ali começado. Alias mais uma não, a mesma... justamente porque não fora capaz de se impor novamente.
Era um general entrincheirado, aturdido e desacreditado. A batalha, seguia então.