DRUMMOND ACOPLADO
A estátua do poeta saiu torta,
viraram seu corpo para a avenida,
sentado no banco sem ver o mar
ela não gosta que cheguem por trás,
principalmente mulheres,
que roçam nas suas costas,
biquínis amarelos em formato de peitos.
Assim a estátua apenas imagina as presenças e as cores.
Todas empacam para uma foto e riem.
Para sorrir o bronze levaria muito tempo.
A estátua do poeta não quer mais agradar,
prefere agora esperar uma chuva noturna.
Essa chuva e a luz,
vinda das altas luminárias de Copacabana,
garantem com precisão
algo eterno para um olhar poético:
pontos iluminados sobre o asfalto,
uma combinação de brilhos,
quase estrelas que piscam.
Mas a estátua do poeta, na verdade,
ainda mantém o eu-lírico
mantendo sua discrição
e uma sensibilidade incomum
apesar da raridade
de também ser bronze.
Difícil definir,
ela gosta de cenas prosaicas.
Ontem de madrugada passou pela sua frente.
um carro com passageiros bêbados
que gritavam:
- Viva o Rio de Janeiro!