DRUMMOND ACOPLADO

A estátua do poeta saiu torta,

viraram seu corpo para a avenida,

sentado no banco sem ver o mar

ela não gosta que cheguem por trás,

principalmente mulheres,

que roçam nas suas costas,

biquínis amarelos em formato de peitos.

Assim a estátua apenas imagina as presenças e as cores.

Todas empacam para uma foto e riem.

Para sorrir o bronze levaria muito tempo.

A estátua do poeta não quer mais agradar,

prefere agora esperar uma chuva noturna.

Essa chuva e a luz,

vinda das altas luminárias de Copacabana,

garantem com precisão

algo eterno para um olhar poético:

pontos iluminados sobre o asfalto,

uma combinação de brilhos,

quase estrelas que piscam.

Mas a estátua do poeta, na verdade,

ainda mantém o eu-lírico

mantendo sua discrição

e uma sensibilidade incomum

apesar da raridade

de também ser bronze.

Difícil definir,

ela gosta de cenas prosaicas.

Ontem de madrugada passou pela sua frente.

um carro com passageiros bêbados

que gritavam:

- Viva o Rio de Janeiro!

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 05/03/2019
Reeditado em 11/03/2024
Código do texto: T6589879
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.