QUEM SOMOS

As pessoas não se dão conta

Que o tempo diametralmente oposto

Mais nos leva pra trevas da afronta

Do que a luz nos trás meramente cumprindo seu posto

Elas não se dão conta

Que os maiores prazeres

São justamente os superficiais

Os que não marcamos com antecedência

E o hálito do tempo é uma estranha ciência

Que como num retrovisor deixa tudo pra trás

E os momentos por mais triviais que sejam

Um dia vicejaram e fizeram a alegria

Dos nossos ancestrais...

As pessoas não se dão conta que por vezes

A morte é menos uma vilã e muito mais uma aliada

E que tudo na verdade não passa de nada

E tudo voa como a passarada...E a pena rodopia perdida

Sem pouso qual a lágrima derramada

Não se dão conta que as folhas que rodopiam hoje

Frívolas nas calçadas, na verdade logo mais

Virarão as asas incontidas nas trinadas da passarada

Tudo vive, tudo se colore continuamente

Nada morre, tudo se renova, somos passageiros

Sempre partimos nesta busca inquietante

E nunca chegaremos a destino algum

Justamente porque o bote pertence ao instante...

Consoante a tudo isso ainda não nos damos conta

De que o mundo é um baile à fantasia

E que nós só entramos com as máscaras da hipocrisia

E que é na concretude do dia-a-dia

Que está a purpurina da poesia...

Pois que das mãos se lava o sangue

Mais dos olhos do assassino jamais a sangria

Não se dão conta que somos navegantes

De uma viagem sem volta

Somos tripulantes sem ilha pra chegar

Sempre estamos indo pro mesmo lugar...

Acreditamos no que lemos, no que nos ensinam

Mais não nos conhecemos de fato e de direito

Não se dão conta que o amarelo é amarelecido

E que o que podia acontecer conosco já é acontecido...

As pessoas não se dão conta

Que não nasceram do entorpecimento

Que se não morremos ontem

É porque algum anjo

Tem pago nossos dez por cento de vida

E que o champanhe de nossas horas póstumas

Na verdade é sidra...

As pessoas não se dão conta

Porque a conta sempre fica em aberto

Pensando que uma outra pessoa venha pagar

Pois que a vida é um quase nada de tudo

Por isso que quanto mais tempo pensamos em viver

Tanto o mais estamos morrendo pro dia nascer

O ser humano viaja por regiões abissais

Tudo busca e nada compreende

Fica num estado de beligerância

Pensando que é senhor de si

Mais está apenas engatinhando neste intrincado dialeto

Pelas regiões mais secretas e incognoscíveis

Do seu próprio ser que desconhece por completo...

A vida é...

Há um bilhão de formas de morrer

E pra viver só existe uma!!!

E sequer sabemos porque existimos

E tampouco porque morremos...

Quem somos???

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 05/03/2019
Código do texto: T6589849
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