Fogo e terra

Sou fogo, és terra; se me cobrires, me sufocas, pois preciso de oxigênio, espaços abertos. E ao mesmo tempo não cuidas que posso te moldar, e que o barro assim aquecido perde sua maleabilidade: um vaso, uma estátua.

Mas, contrariando a natureza dos elementos, não é isso que acontece. Pois quando me cobres, sinto a vida, sinto todos os meus músculos em harmonia, sinto o prazer de ter teu peso, tua vitalidade dentro de mim, como parte do meu próprio corpo sem a qual é impossível continuar a arder. E quando te aqueço, percebo tua virilidade pulsando, todos os teus sentidos atentos; ficas mais móvel e inquieto, mais vivo e mais alerta, e me dás muito mais do que te peço.

Como nos tocar sem que percamos nossa natureza? Serve-me de base, apoio para meu brilho próprio, estrutura de que necessito para arder, que te aqueço levemente, apenas a ponto de te tornares fértil, um solo bom e caloroso para a vida.

A ti dedico as labaredas de minha natureza apaixonada, enquanto tento me adaptar ao teu destino: ligação atávica ao teu chão, à tua própria terra.