Saudosismo e Espera 2

Farreei com a chuva, fui acompanhante do vento, senti ele no seu toucador. Quando as gotas do orvalho deslizavam sobre as folhagens. Chorava com elas, lágrimas de Deus banhando o que criou com vitalidade.

Sussurrei com a ventania em alto mar, testemunhei as ondas enfurecidas pedindo vida. Chacoalhei com as árvores seus galhos nas florestas dos tempos, entoando a orquestra da criação.

A Onipresença da eternidade se apresenta a mim num estado fora do tempo, sem pedir licença. Confiro assistindo a festa do mundo védico, a explosão das palavras ditas pelos Super-homens daquela era, que cederam em forma de canção e poesia, os principais alicerces para a humanidade fazer seu chão.

Comunguei com os primitivos a saudade do mestre que havia partido pouco antes, depois da Crucificação.

Gemi com eles para extravasar a dor que demorou apartar, para então continuarem na empreita que o mestre do Amor queria, que fossem para todos cantos da terra anunciar as primícias.

Vivi como a aranha no paço do Rei nestes instantes, parti como as ondas do mar, que mantém desconhecido de onde elas vem, e para onde irão.

Assisti junto ao anonimato da Fonte Suprema, o derramamento do dom da vida a criação, deitei junto com as águas nas primeiras correntezas dos rios, conheci todo percurso dos desfiladeiros, nascentes, bacias, minas e mananciais. Vivi o sentido e alcance das escolhas das montanhas, serras e cordilheiras serem o que são.

Vivi as concessões e permissões do fraco e do forte, para que a humanidade pudessem seguir sua rota, com o apagador as mãos, as tintas e o pincel para recontar sua história no tempo.

Presenciei o choro da derrota primeira, a queda do homem do lugar da qual nunca deixou de ser dele, o reino dos céus. Da caída, embrenhei-me na escuridão da noite, assisti o iniciar da busca do retorno.

O tecer, a arquitetura da culpa e do pecado, tudo tão bem desenhado, que perdi o trajeto de retorno, entrelacei o real com o imaginário. Vivi por algum tempo em meio ao calabouço, até que de tanto gatunhar, deitar e rolar na linha do tempo na sintonia da terceira, mente lógica, que germinou a saudade.

Dela Eu me valho. Espero e busco o retorno

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 21/02/2019
Código do texto: T6580605
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