Saudosismo e Espera

Saudosismo e Espera

Não sei se o que Sou está a serviço somente da Videira e do Lavrador, a catalisar infinitas possibilidades para estes seres expostos a expansão, a qual me incluo, geração que eclodirá naquela do novo tempo. Ou se também trabalho em causa própria.

Em mim o impulso vem de um ontem, que acostumei vê-lo como telespectadora , que convive com o hoje vivido em um corpo decadente, representante dos lamentos e esperanças, dores e labores, resultado da queda dos degraus adquiridos na escala evolutiva.

Recordo em detalhe, os detalhes da vida que passei. O gosto das tâmaras, o lápis azuli, pedras cravejadas em muito ouro e prata, as joias que carreguei dependuradas no corpo, enobrecendo a beldade física, casa que habitou a alma daqueles tempos.

Os traços e os retratos que pousei, os bocejos nos inícios das manhãs, despertar nos aposentos de rainha.

Santuário de beatitudes, cânticos dos Deuses ouvidos pelos corredores dos castelos, vividos como corriqueiros, visão do belo e do bom como única ótica, a era do desconhecimento da miséria, da pobreza do ter, mantinha apagado na inocência da mente humana toda traquinagem lógica derrotista que destruiu os verdadeiros valores humanos.

Dinastias e dinastias, reinos e reinados. Sinto no paladar o gosto das refeições, o sentido e alcance das festas de que participei.

No corpo deste agora, nos cômodos da casa, desfilo com o cetim, a organza, o cambraia daqueles tempos, compartilho com o corpo do passado as sensações da vida nobre que deu campo para minha alma construir as bases que dariam sustentação para minh´alma sobreviver neste tempo de trevas.

Penas e penugens, bebidas e caviares em banquetes seletos, secretos, maças e ameixas, deixadas naquele tempo, ainda disponíveis, como que esperando meus lábios assumirem novamente a majestade, pedem para que acaricie-as e digere-as no corpo que caminho para o resgate, somente nele desfrutarei novamente as primícias.

Respiro nobreza, suntuosidade que anda em meu recôndito pedindo emersão. Vivo o sobejar de uma riqueza que denuncia em minhas entranhas a expectativa de uma experiência particular intocável, somente minha, aguardando o despertar para uso.

O sublime me persegue, como o cão à caça, os lábios para o beijo, os rios para o mar, a noite para o dia.

Sinto saudade injustificada de reunir com quem sabia mais que eu, ouvir suas vozes, deliciar com o novo, dito na oralidade.

Há saudade de sentir novamente minha alma apequenada a espera da expansão, aguardando os saberes da senda, do caminho, da verdade e da vida.

Sempre quando me perco no caminho, neste tempo de desassossegos, tenho a bússola que se apresenta.

Esperança do retorno.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 18/02/2019
Código do texto: T6578333
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