Insegurança
A brisa, o vento, a tempestade e a calmaria. Momentos que poderiam definir as fases de nossas vidas. Mas o que fazer com as folhas carregadas pelos temporais? Os anos não voltam jamais, bem sei. Contudo, o sabor dos beijos que dei... Ah, como queria prová-los outra vez.
O espelho em meu quarto mostra alguém que não reconheço. Algumas rugas e expressões de momentos que não me esqueço, mas de resto, só um retrato que respira envelhecido pela passagem das estações.
Os amigos da escola, da faculdade, do trabalho... Há muito não os vejo. Deixei de ligar. Deixei de atender. O enfado dos dias e a perda gradativa da agilidade me fizeram perceber que não quero mais umas coisas, mas quero outras. Algumas delas nunca tive e outras tantas passei a querer.
Pode ser confuso me entender a princípio, mas o viço foi me abandonando aos poucos e, apesar de não possuir a impetuosidade de antes, meu coração pula dentro do peito como um bobo ao perceber que ainda pode amar e querer correr riscos. Não, não é arritimia, Ele vibra como criança e também deseja como um adolescente, mantendo no olhar o brilho por trás da insegurança do meu medo de ser incompatível, e me julgarem incoerente.
Em pensar que poderão achar ridículos meus anseios, e até indecentes, volto-me ao espelho e pergunto: "-Por que a vida passou num sopro? Por que não vivi tudo que podia, intensamente?
O silêncio em resposta me atormenta. Finjo deter então, a sabedoria da experiência, escondendo o tremor das mãos de revolta pela covardia de não ousar mais. Assombra-me a reprovação daqueles que se apoiam na aparente lucidez de quem cumpriu as regras, mas não viveu.
Andar reto sobre os trilhos também mata.
O pior de algumas mortes são os álbuns sem lembranças e as conversas sem histórias.
O que se levará da vida a não ser as memórias?
Quando tudo se for - a juventude, os amores, os filhos -, deveríamos ser programados fisiologicamente para entrar em coma. Seria maravilhoso hibernar nesse estado sonhando nossas melhores passagens e depois partir com um sorriso nos lábios. Aqueles que aproveitaram com dignidade a dádiva da existência, usufruindo cada segundo sem a insegurança dos oprimidos, dos contidos e dos covardes.