QUANDO O VENTO PASSA
QUANDO O VENTO PASSA
Quando o vento passa
em qualquer lugar que esteja,
deixa algum verso de saudade comigo.
Eu posso estar abstraído
debaixo de uma árvore frondosa,
olhando uma réstia de sol
que se foi junto com o ocaso vespertino.
Eu posso estar admirando
a beleza singela da flor,
em cujas pétalas desliza o orvalho
matutino. Eu posso contemplar as nuvens
matinais passando lentas,
para que no azul do céu prevaleça
o realce do sol iluminando o dia.
E posso também, envolto no encanto
da noite, me imaginar voando
como pássaro espiritual, por entre
as belezas astrais. Eu posso tudo isso
e muito mais, segundo cada
instante existencial que a força das coisas
me destina, que o vento vai estar
passando, ora calmo ora afoito,
me deixando algumas reminiscências
do que vivi com pessoas, lugares, as quais,
os ares ventosos me chegam, e me adentram
em forma de versos livres e prosaicos.
Não conto as vezes que, deixando a alma
inclinada a receber o influxo inspirador,
a brisa que passou suave me trouxe lembranças
diversas, sentindo-as pelo olfato sensível.
E então, nesse ínterim, estando acometido
de intenso êxtase, me lembro de um livro
que li, de uma música que ouvi, de um brinquedo
que ganhei na infância, das férias pueris
veraneando em Pontal, do cheiro das flores
silvestres no quintal da casa de minha avó,
de subir nos pés de amêndoas na avenida
de minha infância, das peladas na rua
de minha infância, dos primeiros rabiscos
poéticos na pré adolescência, e tantos outros
instantes existenciais que o vento andejo
sempre me traz, para que os transforme
em poesia, em prosa, em escrita literária
repleta de saudade, repleta de bons
sentimentos saudosistas.
Escritor Adilson Fontoura