Busca, procura, dúvida: aonde vamos parar!?
Luto. Preconizam, talvez uma exasperação sem tamanho em relação a perda de um ente, ou das tragédias ocorridas recentemente. Não, não é. Luto do verbo lutar. Luto para compreender – talvez margeando o enlutado momento que vivemos também – o que ainda não pôde ser compreendido.
Ouço agora os pingos da chuva batendo no telhado e penso que há muito mais a se ouvir. Cada gota, uma infinita sinfonia de gotas, ora firmes, ora brandas, são, com toda certeza, as pessoas querendo dizer algo, porém sem alguém disposto a ouvir. É um clamor natural do ser que é, por si só, carente de tantas coisas, mas principalmente de afeto. “Tempos difíceis”, anuncia o catastrófico profeta...
Tempo. Ele é figura implacável, redentor de toda efêmera – e talvez estúpida – existência humana; Deus cada vez mais exigente de pessoas cada vez mais ocupadas. Já notaram como as horas do dia parecem ser insuficientes para a demanda que nos propusemos? Um minuto parece um segundo... [...] Tenho de interromper, há muitas vozes agora, falando no meu telhado, me impedindo de ouvir a mim mesmo. Há gritos, trovões ecoam em meio ao estupendo nada. Sim, há coisas incríveis que acontecem no nada, de forma inesperada.
Há pouco tempo eu proferi palavras sem antes sentir o peso delas. Uma indagação que me sufocou e ainda sufoca: para quê praguejar contra o tempo, se é ele quem nos constrói? Algumas indagações persistem, são retumbantes. Essa é só mais uma... Não a inferiorizando, mas... É só mais uma gota.
Estou atônito, consternado. Como pode o ser humano ser dependente do outro e, por vaidade, egoísmo, gana, sede de poder, passar por cima do seu semelhante? Com palavras, com atitudes, com prepotência, com arrogância; com desinteresse (Sim!), com falta de empatia. Pude observar por esses dias tanta falta de sensibilidade com o que toca o outro, como as pessoas podem ser assim? Das tragédias com a barragem rompida, com o contêiner incendiado, com a chuva no Rio, até com a queda do helicóptero que matou o piloto e o repórter. Que tipo de humanidade enojadora é essa? Ao passo em que eu percebo o superego das pessoas em achar que o mundo gira em torno delas e de suas atitudes, percebo o quanto é necessário dar passos largos ao desapego.
Observar essa crescente individualista, um boom de aversão ao outro, como quem fosse descartável – aliás, o que esperar dessa geração que nasceu nessa catastrófica Era do Descartável? -, é, no mínimo o que podemos esperar das relações que se estabelecem: usa, abusa e quando não serve, joga fora. Porém, pessoas, estou tratando não de objetos, com o qual se faz isso, estou tratando aqui de pessoas, ora bolas. Pessoas que hoje mergulham em profundo vazio por não terem relações sólidas, por não terem suporte afetivo, familiar, e o escambau. Por falta de amparo, por não conseguir enxergar o caminho, pessoas hoje entram em profunda melancolia, numa sofreguidão, mergulhando em profunda depressão. Não enxergam que há caminho, nessa estrada tortuosa. Meu sentimento é indefinido agora, é como se meus dedos sangrassem e eu escutasse, mais uma vez, um misto de vozes a ecoar no telhado da minha mente. “Socorro! Preciso de alguém pra me ouvir!” “Estou só”. Logo penso, como pode a humanidade gregária, dependente do outro, deixar outra pessoa ao léu, desamparada de afeto? Como não ouvir o silêncio das bocas que insistem em calar-se? Claro! “O silêncio é um texto fácil de ser interpretado errado”.
[...]
É possível tomar a dor do outro pra si? É possível não tomar? É possível se doar ao outro? É possível não fazê-lo? É possível ser único na vida de alguém? É possível não sê-lo?
Quantas vezes, no nosso cotidiano, percebemo-nos fazendo coisas nas quais pensamos “será que alguém faria isso que faço igual a mim?”, ou algo parecido? Há quem pense: “Evidente que sim, não sou insubstituível!”. Mas, será? Haverá quem realize a minha função no trabalho, sim... Haverá aquele ou aquela que encante a pessoa que estivera comigo e, francamente, tudo bem por isso; há aquele ou aquela que sequer se recordará do meu “bom dia”, proferido sinceramente ao cruzarmos o mesmo caminho, no mesmo horário, fazendo, cada um de nós alguma coisa, tal qual fiz para outras dez pessoas, com a mesma sinceridade. O que isso gera? Afinal, somos únicos ou somos substituíveis?
Sempre me pego pensando na brilhante frase estampada como subtítulo do livro Viver em Paz para Morrer em Paz, do Mário Sérgio Cortella: “Se você não existisse, que falta você faria?”; Que falta faria eu? Que falta faria tu? O fato é que, se formos substituíveis, muito provavelmente não faríamos falta. Logo, a sentença foi proferida: não somos seres substituíveis! Somos únicos! E o que fazemos dessa nossa particularidade? Eis a questão...
É estranho saber da nossa particularidade, uma vez que – temo não sabermos todos -, estamos fadados ao esquecimento à medida que o tempo passa. Amnésia? Não... Grau de importância. Importar, nada mais, nada menos significa trazer para dentro. Quando dentro de quem tu gostas, tu estás? Quão dentro de ti estou eu? Mais que isso, quão eu me esforço para me guardar dentro de ti? Quanto tu te esforças para que esteja dentro de mim, no meu sentimento? Ora! Quão estamos nos doando, uns aos outros? Quanto estamos nos imortalizando no outro, com o respeito, carisma, equilíbrio, amizade, amor, que seja?
Tudo que eu queria que essas linhas transmitissem não é catástrofe, tragédia ou profecia de lamentações e espero, verdadeiramente, conseguir extrair o melhor de tudo que estou pondo aqui. Não é bom que sejamos incentivadores dos afastamentos. Pelo contrário, aliás... É bom que estejamos tão preocupados com os outros tanto como nos preocupamos com o nosso próprio umbigo. Rigidez nas palavras e retidão é o que me vem agora e talvez eu me arrependa de não ter pensado noutras palavras, mas não está me preocupando agora, então, perdoem-me a prepotência. É, para mim, um mal necessário. Mas nem todos os são, então, tentarei dosar em porções sucintas minha sujeição de porras, caralhos e afins. Perdoem novamente.
[...]
Existe dentro de nós um turbilhão de sensações, sentimentos, que são disparados por atitudes, nossas ou externas, que nos acometem. Essa influência nos remonta cenários, nos trazem memórias, desejos, estão diretamente ligados ao que temos de potência produtiva ou de melancolia, que nos entorpece, nos paralisa. Como perceber esse ganho de potência se, por descuido, não conhecemos a nós mesmos com profundidade a ponto de saber nossos desejos mais profundos, nossas fraquezas, nossas imperfeições? Como entender que é justamente nesse ponto que devemos nos debruçar para começarmos – se me permitem o pleonasmo - “do começo”, o caminho rumo ao que melhor podemos ser, ao que melhor podemos estar, ao que melhor podemos importar?
Cautela ao olhar pra dentro de si! Estamos acostumados com as “verdades” alheias, não podemos nos render ao que nos querem fazer acreditar. Muitas vezes, nos podamos tanto pelo que o outro diz a nosso respeito que nos esquecemos de ser quem somos, do caminho que nós mesmos queremos traçar, da vida que queremos viver, dentro da nossa moralidade, da nossa forma de conduzir a vida, da nossa ética. Egoísmo? Não vejo assim. Egocentrismo? Muito menos. Particularidade da percepção da vida. Okay, podem dizer os extremistas que, por esse ponto de vista, aquele que difere veementemente da forma de pensar do não-extremista também está “certo” e haverei de ponderar: o que é ser “certo” nesse caso, se agimos conforme a nossa ética? Minha frase final me facilitou a argumentação, uma vez que ética seja o acordo entre as partes para o bem viver, o vem conviver. Se não há ética, há conflito. Ora bolas, como aceitar que “A” seja melhor que “B”? Como aceitar que “B” seja melhor que “A”? O x da questão é como fazer “A” e “B” entenderem que não há melhor nem pior, ou seja, que eles são iguais? Iguais a ponto de terem medo, alegria, pavor, euforia, esperança, valores, direitos e deveres.
Não se esgota aqui os porquês, tampouco aquilo que precisa ser falado. Mas por ora o cansaço mental é tamanho, que preciso parar para descansar... E refletir... Espero alguma serventia deste, conclusão alguma seja tomada a partir desse, pois é inconclusivo qualquer linha escrita. Sobretudo sob a forte fonte de inspiração que me moveu até este derradeiro. Esforço-me para manter o mínimo de sanidade, porque a humanidade me força à loucura.