o rei e eu
Ônibus lotado e eu em pé, como sempre. Quanto mais cedo eu tento pegar o ônibus, mais lotado ele fica. Entre tantas cores e odores, o homem se anunciava rei, o rei de sempre e a verborragia dos dias.
Ele diz que todos somos súditos de alguém,eu ponho meu fone de ouvido, as músicas de sempre, preciso reciclar minha play list.
Segundo dia do ano e ninguém descansa, fico pensando em qual tipo de gente tem férias. O rei canta, eu não escuto nada,
vejo as mesmas pessoas subindo nas mesmas paradas a mesma hora, só os dias mudam, desligo minhas músicas e escuto o rei falar, mais um doido no universo, que também é doido. O rei grita que o ano e novo, mas a dor é a mesma. O rei diz que é rico pois é sozinho e que amor mesmo, só de cães.
O rei agora canta um samba falando sobre as ruas e a malandragem dos homens, a malandragem que ele não tem. Vagou um assento, ninguém sentou na vaga recém liberada pois era ao lado do rei e, como o próprio rei disse, ele é sozinho, eu sento. O rei logo vira e me diz que sempre pega o caminho sem rumo, mas esse caminho e o mesmo todo dia e tem parada final.
o rei me diz que o ano traz uma sensação velha de algo que posso fazer todo dia, e ele me diz que eu tenho muito o que fazer.
o rei fala que correu quilômetros de gente e que também correu mundo, que já viu areias suja e ventos desertos e não se faz promessa à ninguém e que não se promete o que não se tem, o rei me mandou olhar la fora, pela janela, pra ver como a coisa ocupa um lugar tao grande no nada,
mas eu não vi nada. ele me disse pra eu ir e deixar quem quiser ir, que eu nada posso fazer se ela não quer ficar, mas que eu posso fazer se eu quiser ir, o rei me disse que eu era tão sozinha quanto ele e quanto todos naquele ônibus,
mas o mais sozinho era o motorista, ele disse