COM MUITO AMOR

COM MUITO AMOR

Há muito tempo atrás eu fiz um poema sobre o Cachoeira.

Era pré-adolescente sonhador. Ainda não sabia deveras

se queria ser poeta. Se tinha alguma habilidade para

ser um vate, nem que fosse um vate menor, modesto.

(Desses que poetizam, mas não são conhecidos pelo

grande público leitor. Sera que não estariam perdendo

uma boa ocasião em lerem um futuro grande poeta?)

Ainda não sabia se tinha aptidão pra descrever o rio

que banha a minha cidade, ou outros rios mais distantes,

contanto que a descrição parecesse com um poema.

Naquela época, o famoso rio de minha cidade, era bem

menos poluído, por isso era mais lindo, tinha mais

peixes, mais pescadores, tinha mais lavadeiras em suas margens, corria

mais livre e mais caudaloso. Era bem mais poético!

Talvez, se fosse um poeta experiente, um poeta que

gostasse de escrever com rima parnasiana, ou que fosse

hábil pra escrever em versos livres, revelando a

tendência inovadora ao poema modernista, talvez,

repito, movido por uma inusitada inspiração, pudesse ter

aproveitado os encantos naturais do Cachoeira naquela

época, para escrever um poema simples, sem ser épico,

porém grandioso na forma, no conteúdo, na

musicalidade, realçando a sua beleza natural através da

arte admirável de fazer versos. Mas acho que, por

inabilidade poética o que fiz na época, descrevendo o

Cachoeira, foi apenas um poemeto, um sonetinho sem

relevância que, no entanto, foi publicado, junto com

outros poeminhas igualmente tímidos e irrelevantes,

na coluna literária do saudoso jornalista Raimundo

Galvao, intitulada Sua Vez, apresentando-me com um

breve comentário, mas esperançoso de que, pela

mostra daquele vate iniciante, se poderia esperar

muito. Nem é preciso dizer aqui, da alegria que fiquei,

sendo publicado pela primeira vez, em página inteira,

no principal jornal diário de minha cidade natal, o Diário

de Itabuna, que hoje nem existe mais, embora outros

tenham sido criados, como o Diário Bahia. Me lembro

que, fiquei tão contente com a publicação, que a guardei

por muitos e muitos anos em meus arquivos literários,

relendo-a eventualmente, e sonhando, agradavelmente

sonhando que no porvir, mesmo que não me tornasse

um grande poeta (um poeta de renome que nunca

pretendi ser), mas pelo menos, que fosse um

pequeno poeta, um poeta menor, desses que escrevem

de modo discreto, lido somente por um punhado de

leitores admiradores de sua poesia, posto que, o

relevante e essencial, não é você escrever muito, não é

você publicar livro, não é você ficar bem conhecido do

grande público, não é o que você escreve, seja

preciso sair de sua aldeia e atravessar fronteiras. Não,

não é preciso nada disso. Basta você por um pouco de

qualidade no que faz. Basta você fazer o que faz com

amor. Basta você ser simples e espontâneo no que faz, e

sobretudo, doar o que faz (o ofício de exercer a escrita literária), ao dileto leitor, com muito amor.

Escritor Adilson Fontoura

Adilson Fontoura
Enviado por Adilson Fontoura em 03/02/2019
Reeditado em 10/06/2022
Código do texto: T6566054
Classificação de conteúdo: seguro
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