Do adeus de minha musa

De repente, percebi que aquele nome já estava roto e que eu já apenas o pronunciava pelo hábito... que a imagem que primeiro me vinha à mente quando evocava minha musa já não era mais a dela, mas uma outra, serena, que foi se estabelecendo de mansinho.

Percebi, então, que aquele adeus que eu julgava não ser capaz de dar já estava dado e que o que permanecia era o automático do hábito intensamente cultivado.

Então, cheguei à conclusão de que nada mais se dizia porque tudo que havia para ser dito já o tinha sido... que eu não saia daquele ponto em que julgava estar porque, em verdade, eu já estava fora.

Tudo já se passara... só uma ideia fixa, parada no tempo, ainda me prendia a ela. Mas quem era ela? ... Não me foi mais possível responder.

Ela era um sonho... tentei resgatá-lo e já nenhum fragmento apresentou-se à recordação. Ela era uma imagem... tentei recuperá-la e já os traços estavam desconfigurados e pálidos. Ela era um poema... tentei relê-lo e já as palavras faziam outro sentido, belo mas longínquo.

Parece-me que ficara apenas o espaço vazio... enquanto eu me distraíra, fixo na paisagem imóvel através da janela, ela levara tudo que lhe pertencia, até o cheiro, o som, o toque, a imagem... levou tudo e se foi.

Ficou a sala vazia e a porta aberta, por onde agora percebo entrar a brisa gelada da noite. Tenho frio... mas espero. O Sol há de chegar em breve. Não há noite que dure eternamente.