A vida é um instante
Depois do choro pelo tapa na bunda que levamos, passamos a depender de tudo e de todos. Segundos viram minutos, minutos viram horas, essas se transformam dias e meses viram anos, que passam por nós sem pedir licença, sem segunda chance.
Apressam-nos para andar, falar, escrever e a escolhermos uma carreira. Temos que nos sustentar e aprendermos a nos defender. De quem? Uns dos outros. Nascidos da mesmíssima maneira. Indivíduos sujeitos ao mesmo sol e lua, amores e dores. Sabedores que a ampulheta conta nosso inspirar e expirar, como grãos de areia filtrados entre duas esferas vítreas que não deixam nada para trás.
Hoje vi uma revoada de andorinhas. Bailavam sincronizadas e desenhavam imagens estranhas, que para mim eram pura poesia. Naquele balé de coreografia complicada, nenhuma delas se esbarrava. Respeitavam o mísero espaço entre uma e outra asa, sem plano de voo, sem sinalização, sem hora de chegada.
Pensei comigo mesma, que a natureza em sua sabedoria deveria retomar o planeta, por demonstrar que simples andorinhas tem mais senso de direção que nós, medíocres humanos, que nem sabemos sair da madre e caminhar sobre a terra.
Poderíamos ser assim, simples e perfeitos. Com gestos ritmados ou talvez meio sem jeito, entretanto, lado a lado, num amparo coletivo e respeitoso. Faríamos barulho às vezes, provocaríamos certo alvoroço, mas sempre unidos, unânimes, sincronizados, traduzindo em beleza nossa uniformidade indissolúvel. Somos todos diferentes, porém, interdependentes. Precisamos nos enxergar como uma única raça. A raça humana. Consequentemente, nossa criação expressaria a essência da própria arte. Encheríamos o mundo de beleza e ninguém estaria mais sozinho ou desamparado por ser essa a nossa natureza, a de viver juntos em perfeita sintonia.