Passageiros do tempo

Amanheceu e a vida sorri tal qual criança embalando brincadeiras, sem saber falar direito. Em ilusões e inocência, arranca sorrisos e felicidades. Vai – se o trem pelos trilhos da saudade, margeando pedregulhos e florestas, na segurança e certeza de que se chega a algum lugar. Bagagens da vida, passageiros do tempo. Presumimos tantos enredos e às vezes não protagonizamos nenhum episódio. Os indivíduos se dotam de comodismo e inércia. Coleção de sonhos e amores vai ficando no museu do esquecimento. Mais tarde, os anciãos irão visita-los vestindo suas lamentações, enquadrando-se nas suas telas sem pinturas.

Deveria ter feito o bem a quem precisava; Ter amado a quem queria amor. Porque amor se dá a quem precisa, mas só se consuma para quem recebe, quando aceita. Quem doa, por si só, se faz amor intenso.

Não se devem tecer planícies na pele do outro, esperando muralhas de proteção depois. As plantações estendidas nos campos da alma são adubadas e regadas com a serenidade e lucidez que emana de Deus e da faculdade que cada um tem em exercer e permitir essa atividade.

A luz no candeeiro dos olhos é para dirigir passos nas estradas noturnas e levar pelas mãos, todos aqueles que se cegam pela ignorância ou pelos errôneos exercícios realizados, os quais denigrem imagens, ofendem com palavras e ações e causam dores. A dor sentida, mesmo amenizada, relata resquícios por tempo indefinido. Causa e consequência da fragilidade humana. Pode-se aprender muito com ela, mas requer sapiência e quietação. O brilho existe em cada ser, mas é preciso inspirá-lo. Mostra-se, se deixarmos. Caso não se consinta, se ofusca e vive trancado, sem serventia. A musculatura da alma fala mais que a beleza do revestimento carnal.

Bom, a verdade, é que amanheceu e despontou o sol, fazendo flores e folhas bocejarem; E sem querer, jogaram pingos de orvalho no chão. As pessoas tumultuam-se novamente e o trem segue viagem.