Libre como el fuego
Me deixaram sozinha nessa casa de piso branco, facilmente sujável, sujeita a visitas inesperadas, num lugar onde eu nem saberia abrir o portão. Eu sabia que ia chover forte, pois o sol ardia minha pele e as nuvens estavam cada vez maiores, montando o cenário: papel de parede cinza, que parecia blocos de gelo. Encostei na grama macia, sentei. Deitei. Os meus olhos estavam pesados e o cigarro aceso na mão. A minha blusa encostava na pele, pele e blusa molhadas de suor. Quando comecei a prestar atenção na imagem que se formava acima de mim e que se movia, me senti carregada pelo tapete acinzentado e eu estava em seu centro, num enquadramento perfeito. No meu casulo, protegida e só. Imensidão de coberta, enxoval sem matrimônio sob a cama que me abrigava. Passou acima de mim, bateu a asa três vezes e depois finalizou um voo leve de perfeição, produzindo uma reta perfeita com plenitude. Voei, como era bom voar. A sonata tocava, talvez não fosse uma sonata. Podia não ser, como é bom voar.