Gota a gota
A parte boa de não sentir mais aquele frio no estômago é que você pode andar por aí despreocupado
Liberto da carga do amar demais
Porque uma vez você amou esse tanto
Aquela quantia absurda
Mas não rendeu. Guardou com cuidado, mas o bolso furou
E o amor (o que é isso mesmo?) se foi.
Parece que foi há um milhão de anos atrás
E
Ainda
Sinto aqui a violência da presença
Que Não me deixa em paz.
Sentada na varanda, tomando café,
Ela vem.
Esperando ser atendida na fila do mercado,
Ela vem.
Vem forte
Lá naquele antro de cárcere periódico é onde ela sempre vem
Toda vez
e cada vez mais mal educada
Não anuncia, não pede licença
Chega chutando a porta e me deixando sem graça
Desgraça!
Que lágrima filha da puta .
Como pode ser Tão pequena e me envergonhar esse tanto?
Tão rasa e ainda me afoga
Tem o poder de me lembrar coisas que eu mesma afoguei há tempos
Traz de volta o corpo arroxeado, boiando na margem do rio de decepção
A solidão já é parte de mobília que não sei me livrar
Daquelas que a gente sabe que não presta, mas vê um valor sentimental.
Paradoxo inexplicável esse: quando a solitude acaba sendo a companhia perfeita pra lamentação.