Girassol
Eu estava junto às minhas colegas no campo.
Éramos muitas, todas lindas e saudáveis.
Ao nascer o dia, levantavamos junto ao sol, em admiração
E por ali ficávamos, erguidas até seu poente.
Tinha orgulho do nosso trabalho de admirá-lo, alegrar quem nos via e encher de beleza aquele campo.
Mas um dia, questionei-me sobre esse orgulho. Será que era tão louvável minha rotina? Por que acompanhar alguém que talvez nem saiba que eu exista? Por que venerar nossa beleza, importa tanto assim?
Aquela ideia permaneceu comigo durante um tempo, e cada dia mais eu as considerava. Pouco a pouco, e cada vez menos, cumpria o papel que me foi dado, de forma bela.
Todos repararam, comentavam que eu era a única naquele campo que perdera o brilho. Me chamaram até de flor preguiçosa, num dos dias que permaneci virada pra baixo, enquanto todas veneravam o sol, erguidas.
Dia após dia, permaneci quieta, imóvel durante todo o dia. Vi amigas de outrora serem podadas para virarem buquês. Vi outras, infelizes, porém, cumprindo sua sina. Eu já não mais conseguia me mover, minha pétala derradeira caira naquela tarde, depois do pôr do sol e minhas forças já não eram suficientes nem mesmo para me declarar triste.
Não me pergunte como, mas alguém que passou pelo campo gostou de mim, aparentemente. Me recolheu com uma pequena pá que trazia em sua bicicleta e com muita delicadeza me levou para morar eu seu canteiro, onde cresci novamente, e me considerei feliz por muito tempo. De lá também podia ver o sol, digamos que fiz as pazes com ele e o contemplei por mais algum tempo. Até o ciclo se repetir, eu questionar minha existência novamente e de novo, parecer pequena demais para expressar um sorriso, por mais raso que fosse.
Girassol nem sempre gira, as vezes fica quieto, pensando. O sol não fica o tempo todo brilhando, por que preciso eu estar?