Poetas
Mais uma vez lhe digo,
não sou desse mundo.
Talvez um dia vá me entender.
Pois,
sempre tive esse olhar mais profundo.
Me aceita com toda essa minha imperfeição.
Não tente calar a minha voz,
tão pouco,
cortar a minha língua.
Do que isso lhe adianta ?
Eu agora estou nas letras.
Aprendi a prever o tempo.
A descrever as tempestades.
Percorro as calmarias.
Meço tudo com o coração.
Ele é o meu lume.
A minha direção.
Hoje chove,
cai estrelas sobre o papel.
A folha fica toda molhada,
são pedaços do céu.
Escrevo fazendo curvas.
Não.
Nunca uso luvas.
Do norte ao sul,
é preciso estar nu.
Às vezes tudo parece confuso.
Digo,
confuso se for pra mim.
Há um emaranhado de frases soltas.
Teimam em escolher as próprias roupas.
Cutucam-sem.
Empurram-se.
Enfim,
todas querendo passagem.
Mas o que posso fazer?
Nem todas cabem numa só viagem.
Difícil é lhe dar com as rebeldes,
odeiam as linhas retas.
Às vezes ate ouço o que me pedem.
Pois,
elas repetem e repetem...
Essa é a vida de todo poeta.
Viver das descobertas.
São vozes pra vários gostos.
Um excesso de máscaras.
Porém,
são formas pra poucos rostos.
Nada é tão simples.
Sempre falo isso pro meu caderno.
Amigo,
durma em paz.
Ele me pergunta.
O despertador ?
Já ligou o pisca-alerta?
Não.
Nada disso é preciso.
Todo poeta é o que lhe desperta.
Mas,
e as frases?
Continuou o meu caderno.
Ora lhe digo,
meu amigo.
Estas continuaram soltas
Algumas a falar do ontem que se foi...
Outras,
do presente que se retem.
E quanto ao amanhã?
Também não se preocupe.
Pois esse ainda vem....
Autor: Francisco de Assis Dorneles.