A DOR QUE ME RASGA
Essa dor que me rasga,
e não sei ao certo de onde parte,
palpita
e as vezes arde.
Arde sem sentir que esquentou,
e dói.
Essa dor que me rasga,
não sangra, não desconfigura,
muda a feição, mas do resto não muda.
A dor que me abre,
por inteiro,
abre em alma,
dói
e parece que nunca sara.
Essa dor que me abre,
tem nome e versos bonitos,
tem Camões, Shakespeare e Machado de Assis,
não é Édipo, Medéia, muito menos Narciso.
Essa dor que me abre
é um ser infinito e ínfimo,
e sufoca,
com um toque de Clarice Lispector,
que tira as palavras da boca
e as empurra garganta abaixo.
Essa dor,
que tanto me dói,
e tanto me muda,
é amor,
na sua forma mais pura,
podada pela tesoura do destino,
que corta mesmo cega,
e força a todo custo
o rompimento desse ser que me integra.
A dor que me abre,
não me abre,
me rasga,
em desgraça ela grita,
é DOOOOOOR,
e me rasga
se travestindo de amor.