A pequena "grande" arca do sótão
Lá está ela, n'um canto pouco procurado da minha casa
A pequena "grande" arca do sótão.
Um pequeno móvel em vista da casa
Uma grande arma do passado, visto hoje, no presente...
É nela que estão guardadas as provas de um tempo feliz,
Tempo de gente sorrindo, com motivos para estarem contentes.
Olhando para as coisas da arca, viajo por um mundo desconhecido
Gente simples com roupas estranhas, com almas humildes: ricas em esperança!
É na pequena "grande" arca do sótão que eu queria morar
Viver n'uma época de harmonia, dormir um sono tranquilo
Jamais ter medo de acordar...
Assim esqueço os problemas desse mundo
A correria que está lá fora, luzes coloridas que apagam, acendem
Carros enlouquecidos, batidas freadas
Gritaria, gente suada, cansada, tentando cada vez mais se esconder na multidão
Que cresce a cada dia, que morre a cada hora.
Sinto-me triste por eles, (talvez) sejam piores que eu!
Achava-me esquisito, só agora vejo que esquisito é tentar livrar-se dos nossos problemas, jogando a culpa nos outros.
Que tristeza!
Não sabem falar, nem ouvir.
Não sabem cantar, nem sorrir...
Ó "pequena grande arca", quem me dera fosses mil...
Uma em cada lar. Guardada nem lugar qualquer.
Quieta ali parada, sem nada a exigir
Guardando memórias de um tempo
Que infelizmente jamais voltará a existir.
Deley