A RAPOSA E AS UVAS
O futuro é o inalcançável instante, põe-se sempre verde para não o colhermos nunca. Está na interminável estrada em que os passos buscam o encontro festivo e o sucesso definitivo.
O progresso desmente nossos olhos e nutre-nos de um infindável sentido de permanência. Perdemos tudo, mas nos iludimos com as sensações e o resto das coisas que fingimos ter.
Sossego oportuno, de tempos vencidos em manhãs de barulhos indetectáveis, irreconhecíveis, que as notícias sacrificam no momento definitivo. O agora, previsto, desintegra-se como metal inculpável em masmorra fúnebre e adquire o sentido de inesgotável incredulidade.
Falsos devaneios irrompem ao acaso, ilusões de vidas plenas e previstas. O futuro é o mar azul, parreirais de sonhos, uvas sempre verdes para a colheita da impossibilidade, de olhos marejados e infinitamente silenciosos.
Nós, somos o decreto da tragédia impura, que viola o íntimo despetalar da noite. Raposas incrustadas na planície, lagos, continentes e alabastros, buscando a interminável despedida e a perfeita forma.
Os momentos que nos chegam, cercam-nos e morrem em redes imprevistas, com doses de silêncio e murmúrios: paisagens, verdes uvas, verdes campos, saudade da antiga casa, feita de orações e instantes vagos.
“As uvas estão verdes”, diz a raposa, tristemente...