A RAPOSA E AS UVAS

O futuro é o inalcançável instante, põe-se sempre verde para não o colhermos nunca. Está na interminável estrada em que os passos buscam o encontro festivo e o sucesso definitivo.

O progresso desmente nossos olhos e nutre-nos de um infindável sentido de permanência. Perdemos tudo, mas nos iludimos com as sensações e o resto das coisas que fingimos ter.

Sossego oportuno, de tempos vencidos em manhãs de barulhos indetectáveis, irreconhecíveis, que as notícias sacrificam no momento definitivo. O agora, previsto, desintegra-se como metal inculpável em masmorra fúnebre e adquire o sentido de inesgotável incredulidade.

Falsos devaneios irrompem ao acaso, ilusões de vidas plenas e previstas. O futuro é o mar azul, parreirais de sonhos, uvas sempre verdes para a colheita da impossibilidade, de olhos marejados e infinitamente silenciosos.

Nós, somos o decreto da tragédia impura, que viola o íntimo despetalar da noite. Raposas incrustadas na planície, lagos, continentes e alabastros, buscando a interminável despedida e a perfeita forma.

Os momentos que nos chegam, cercam-nos e morrem em redes imprevistas, com doses de silêncio e murmúrios: paisagens, verdes uvas, verdes campos, saudade da antiga casa, feita de orações e instantes vagos.

“As uvas estão verdes”, diz a raposa, tristemente...

João Barros
Enviado por João Barros em 09/01/2019
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