Primavera da Morte
Insistentemente o que nos espera vem ao nosso encontro. Por agora, me sinto sem palavras para dizer coisa alguma. Eu sou o pássaro que nasceu sem asas e muitas penas. Não espere depois de minhas muitas reticências coisa alguma. Não é nenhuma tempestade, é a chuva que não quer parar. Já tentei em vão, escutar grandes conselhos e pequenos detalhes mais importantes, mas esta minha vista não ajuda.
Como está abafado aqui! Mesmo que o peito seja mais uma pátria gelada, cheia de cores agora esmaecidas, quando contente, acabo encontrando um motivo para ser mais um triste. Não nego o sol, impossível fazê-lo, mas é que dói demais e, de vez em quando, até sangra e isso é deveras preocupante.
Quantas flores serão necessárias? Sinceramente, não sei. O menino ainda as vende e seu semblante brilha com cada moeda em seu bolso. Pois assim, tudo se transforma, até a tristeza se transforma em pão e a madeira ainda arderá em bonitas chamas. Todo sacrifício nada mais é do que um sacrifício. Assim mesmo não entendemos todos os símbolos de nosso dever de casa.
Acabo conhecendo todas as minhas paredes de cor e, mesmo quando, isso não é motivo de orgulho, acho que fiz o que deveria ter feito. Acabei de rasgar minhas pobres vestes e as transformei em uma fantasia para muitos e muitos carnavais. Eu dei um murro na cara do desespero e o mandei embora.
Um dia meus poemas não serão mais motivo de riso, eu estava certo em minha seriedade, mesmo quando esta surgiu em meio á piada do ano. Estava certo em cantar nos momentos mais impróprios, isto porque a canção veio sem avisar. Tudo no mundo é ternura e compaixão, mesmo quando não o é, deveria ser. As guerras, as maldades, a cobiça, a inveja, enfim, tudo que nos aflige acabará em seu dia mais certo.
Deem um doce para o menino, mesmo que ele não o coma mais. Não quebre seu brinquedo, é como a estrela que ele possui lá no céu. Cuidado ao encher o seu cálice, ele o beberá até não poder mais. Epitáfios podem ser belas histórias, tristes, eu bem o sei, mas mesmo assim, belas.
Seu engano, ó meu amor, foi olhar com seus olhos, não usar as minhas embaçadas lentes. Não foi o tempo que as embaçaram, nem tampouco foi a poeira que nelas se acumularam, foi a minha paixão transformada em água, foi um rio que nasceu em meu rosto e desaguou no chão. Foi quando abaixei a cabeça com medo do caminho e, ainda não sabia que mão deveria temê-lo porque o caminho era meu.
Eu inventei novas regras. E daí? Sou o meu próprio mestre mesmo enquanto aprendiz. Eu mesmo desenho estas minhas loucuras, isso me satisfaz. Eu sou o caçador e a noite acaba me caçando. Minha inocência ressurgiu e agora não quer mais ir embora.
Seu engano, ó meu amor, foi pensar que mataria em plena primavera, eu morro desde que nasci...