Coisas tolas
Há certo charme nas coisas tolas.
Se não as recordamos, não as vivemos à flor da pele.
Aquele sorriso bobo,
um marejar saudoso que dá um brilho diferente no olhar
e nos faz voltar a um momento único.
Somos embalados por uma canção inaudível,
aspiramos lentamente aquele perfume peculiar, a sensação de
uma cor,
uma gargalhada ao longe,
o marulhar do mar.
Há certo charme quando somos tolos.
É uma inocência que nos ruboriza,
nos torna encantadores, mesmo quando as rugas nos enfeitam os olhos
e confere certa sobriedade no sorriso que molda nossos lábios,
atestando que aquele sentimento é verdadeiro, merece crédito, e que estamos ali por inteiro, mesmo que por um breve segundo.
Nosso caminhar fica mais leve, quase flutuamos,
quando nossas tolices nos vêm à memória e somos jovens outra vez.
Temos vontade de ouvir um vinil,
andar descalços na grama ou imprimir nossas pegadas na areia no fim da tarde.
Voltamos ao balanço da pracinha sem medo de parecermos ridículos.
Olhamos atentos para a copa das árvores, buscamos passarinhos, tentamos ouvir as cigarras que não cantam nas cidades.
Apenas olhamos... Calmos.
Congelamos o tempo por um mísero momento e choramos saudades.