As noites frias de Ouro Preto.
Está tudo no mesmo lugar. A casa que inspirou poesias, que foi pivô de uma demanda com o Patrimônio que insistia em dizer que o pé direito da casa, com centímetros de elevação para dar espaço ao andar de cima, cobria parte do Colégio Colégio Baeta. Tudo exagero, pois na mesma rua havia casas com dois pavimentos. Só depois de alguns anos consegui com a ajuda de um advogado desatar este nó. Fato que perdi algumas noites de sono, pelo risco de ter que desfazer o que na verdade era na época o quarto das crianças. Ainda escuto o barulho da escada de madeira com os passos que desciam e subiam causando preocupação por alguma queda, que felizmente nunca aconteceu. Sinto falta do desenvolvimento das crianças que aos poucos foram saindo procurando encaminhar suas vidas.
Ainda tenho desejo de chega ali mesmo no vão da escada para dar aquele grito.
-Vamos meninos, o almoço está pronto.
Sentávamos todos na mesa e aquele momento sagrado das refeições juntos ainda sobrevive na memória.
Havia também no quintal o jogo de bola, que marcava as paredes me obrigando a vez por outra refazer a pintura pelas marcas da bola na parede.
Até isto tenho saudade.
Ao cair da tarde sempre que chegava do trabalho, era comum ver todos sentados montando quebra-cabeças. Alguns ainda estão guardados, normalmente com lindas paisagens.
Ainda recordo das inúmeras vezes que tinha que assistir os filmes como "Rei Leão". Este então era clássico. As crianças antecipavam as falas dos personagens, o que era muito divertido.
Naquele tempo cada vizinho era quase membro da família, todos na rua se conheciam e acompanharam o crescimento das crianças.
Vejo cada casa e como se vejo a que ficava na porta tomando conta de todos da rua. A "fofoqueira" na época folclórica na rua, hoje não está mais na porta a dizer seu típico: -Bom dia!
Em outra casa depois que os filhos se foram, a professora aposentada preferiu ir com o marido morar na praia. Virou República de estudantes.
A dona Jacira que fazia artesanato e ficava vendendo para os turistas que passavam para visitar a Igreja Nossa Senhora da Conceição, onde a maior atração era o Museu com as obras do Aleijadinho, já não está mais entre nós. Tudo mudou.
Agora este aperto no peito, ao lembrar as noites de Ouro Preto, vem forte com as lembranças, de depois que as crianças dormiam, ainda havia tempo de assistir um filme debaixo da proteção de edredom.
Por mais que fizesse calor durante o dia, a noite a cidade das montanhas, sempre caía a temperatura, fazendo muito agradável, quando não era frio demais.
Ainda recordo do comentário feito pelo cunhado quando veio nos visitar.
-Nem sei como você conseguiu ter filho, morando neste lugar frio desse jeito, eu não teria coragem nem de tirar o pijama.