Eu cresci sem ver um homem.
No meu quinto natal, me contaram sobre o papai Noel.
E ele era pai de todas as crianças, e ele era muito caridoso também... Deixava presentes para todas as crianças do mundo....
Em uma madrugada.
E todas, pela manhã, brincavam com os seus brinquedos que ganhavam do papai Noel.
Eu sempre ganhava esses brinquedos, mas nunca via o papai Noel...
E me falavam que estava tudo bem, ele era bem esperto e nunca deixavam o reconhecer.
Mas, a diferença é que depois do natal as crianças o esqueciam...
E eu nunca esqueci.
Eu nunca esqueci porque uma vez, por carta, eu pedi o meu presente...
E ele não me deu.
Eu disse pra ele não ir embora depois de deixar o meu presente.
Eu disse pra ele ficar um pouco mais... Para passear comigo nas férias, me levar para a escola, me ensinar a pedalar...
E ao invés disso ele me deu um parque aquático de boneca.
O presente era muito legal, mas o presente da carta ele não me deu...
E foi aí que eu entendi que não se pode dar coisas impossíveis.
Mas, por pior que seja, eu também entendi que não se pode almejar coisas impossíveis.
E assim eu fui crescendo...
Parei de acreditar em papai Noel.
Parei de acreditar em papai.
Se ele estivesse sido presente, muita coisa seria diferente...
Talvez eu não fosse essa escritora que tem seis bloqueios de escrita em uma semana, e que tem medo de ser normal demais nesse mundo...
Talvez eu fosse segura.
Talvez eu não tivesse dormido com os primeiros caras que conheci no tinder...
Talvez eu não tenha tido depressão.
Ou talvez não... Talvez todas essas coisas fossem o meu destino.
Mas a questão é que: eu não me importo.
Não me importo de ser a escritora frustrada, a sexualmente rebelde, ou a menina depressiva...
Importo-me de você não está aqui para me ajudar com cada questão abordada acima.
Tem varias coisas no mundo que podemos rotular como “acaba carência”...
O problema é que todas essas coisas são transitórias.
Eu cobro muito do meu namorado, porque eu quero que ele supra esse vazio que habita em mim...
Eu já vivi um relacionamento abusivo porque eu acreditava que aquele era o jeito certo de um homem amar uma mulher.
Porém, aquele não era o jeito certo... Você não me ensinou o jeito certo, papai.
Você nunca me ensinou nada.
Você apenas me ensinou a sentir a sua falta, todos os dias...
Falta de alguém que nem sequer conheço.