“Geração Prozac”
Por que a cada dia mais pessoas estão sendo acometidas por doenças psicológicas que causam danos muitas vezes irreversíveis para a vida de uma pessoa e até mesmo de todos que ao seu redor convivem.
Vivemos numa era de poucos amigos, somos solitários em um mundo criado nas redes sociais. Jovens saem menos de casa, e conseguem passar horas conversando com números nos seus celulares. Fotos são postadas por apenas algumas horas, já programadas para sumir em determinado espaço de tempo. Não há mais aparadores com porta retratos estampando algum momento preciso de uma família, ou a viagem de uma pessoa. Não interesse guardar lembranças. O mundo gira em torno de hoje, do agora, e nada deixa.
Depressão é a segunda doença de causa de morte no mundo, perdendo apenas para o infarto. Pessoas se automutilam, se destroem, se matam quase que todos os dias. O que elas tem em comum? É esse sentimento vulnerável e vazio que acabam por deixá-las desorientadas.
A depressão é uma doença devastadoras de nossas mentes, vai queimando nossas células cerebrais deixando buracos irreversíveis e dores por todo o corpo.
Uma pessoa que foi acometida por essa doença nunca mais será a mesma. E por saberem disso é que muitas cometem o suicídio.
Escapar de um doença como esta não é fácil, é preciso persistência, paciência, comprometimento consigo mesmo. O que é bastante difícil, já que a mesma consegue manifestar sensações e reações autodestruidoras, quebram com a vontade e sugam toda a energia restante. É fácil passar um dia na cama, o difícil é sair dela e fazer as tarefas corriqueiras do dia a dia.
O isolamento é almejado a todo o instante, e conviver com a dor é um transtorno insuportável deixando os corpos em metamorfose, parece uma transição. Não conseguimos definir se queremos fazer, podemos fazer ou devemos fazer.
Jovens são manipulados desde a escola, o chamado bullying é a descoberta do século para doenças psíquicas. O mundo se fecha. Há uma redoma tão concentrada de pessoas fazendo e se importando com a mesma coisa, que chega uma hora que explode. Como se fosse uma panela de pressão, quando a água acabar vai se abrir e o estrago vai ser surpreendente.
A dor é quase impossível de descrever, chega ser violenta. Sim, quem sofre de depressão se sente violado, e essa violação deixa cicatrizes terríveis, machucados que nunca param de sangrar. A medicação ajuda; porém, leva-se um bom tempo para conseguir acreditar nela, os efeitos das drogas (como prozac, rivotril, zolpiden, menelati, prestique) são tbm contributivos para mudança que está acontecendo e que sabemos que não terá volta. Talvez não haja fim da linha..
Tudo começa ser questionado, desde a existência a relacionamentos pessoas, e juro, muita coisa perde o sentido, é como se nada dessas coisas tivessem importância. Pois, já se perdeu o que de mais valioso podia se ter, como valores, princípios, morais e até mesmo personalidade.
Saber que há dois anos fui diagnosticada com depressão gravíssima transformou minha vida, no inicio foi confuso, rápido demais; depois aceitei que os efeitos serão para sempre. Nos meus piores momentos, quando estava caída no fundo do poço, uma pessoa muito especial me disse que eu não poderia descer mais, já estava caída no fundo, dali só me restava subir de volta; e o que fiz foi o contrário, ao invés de subir comecei a cavar um buraco, para descer mais e mais. Fiquei perdida e desorientada. Naquela época tinha raiva de tudo e de todas as pessoas que de alguma forma pudessem ter contribuído para minha queda. E isso só me fazia descer mais.
Tive raiva do meu trabalho por ser o principal causador da doença, tiver raiva dos meus amigos por só me criticarem e me abandonarem no momento de dor, tive raiva do meu namorado por não ter ficado ao meu lado e ter se afastado quando viu tamanho era o problema. E foram dias, meses, anos assim. Passava os dias tonta por causa das medicações. Dormia às seis da tarde, muitas vezes não comia, em outras devorava tudo pela casa, como se fosse uma leoa faminta com uma capacidade enorme destrutiva.
Tiver vergonha de quem eu me tornara, tinha medo, muito medo que as pessoas me vissem assim, não poderia me conformar com quem eu estava sendo de verdade.
Agora, quase 2 anos depois de ter iniciado o tratamento estou melhor. Essa semana tive uma consulta com minha psiquiatra. E apesar de ainda não poder entrar em uma agencia bancaria e não conseguir me relacionar com outras pessoas, ela me deu os parabéns, pois tive uma melhora gradual, mas bastante significativa. Naquele momento meus olhos encheram-se de lagrimas, mas senti orgulho de mim mesma, por estar superando todo esse transtorno praticamente sozinha. Não tenho medo e nem vergonha de expor isso; e ainda acredito que meu relato poderá ser capaz de ajudar outras pessoas que passam, ou passaram por situações semelhantes.
Percebi que ter raiva de tudo e todos não me ajudaria a resolver o problema e só me deixaria com uma angustia maior concretizada através da raiva. Quando passei a aceitar e me perdoar por não ter aceitado, tudo começou a se acomodar, lentamente, mas dava para sentir um frio gostoso subindo pelo umbigo.
E se não bastasse ter sido invadida por uma doença causada por estresse e preocupações demasiadas com meu trabalho; também perdi minha família, meu alicerce apoio para todas as horas. Mas, de alguma forma, mesmo tendo perdido parcialmente meus entes queridos, de alguma forma, a vida encontrou um jeito de eles mesmos me ajudarem, ainda que também enfêrmeros, só que fisicamente. E agradeço a minha mãe acima de tudo, ela me deu forças e me dá, todos os dias para continuar, seu sorriso, seu sussurro ao dizer que me ama, revigora minha alma e mais forças adquiro para a escalada.
Não posso dizer que fiquei por todo esse tempo sozinha, seria hipocrisia da minha parte se afirmasse isso. Tenho ao meu lado uma pessoa incrível, que se preocupa comigo, que me protege. Ele é um cara especial demais pra mim, e posso homenageá-lo aqui também, pois foi ele, que mesmo com toda a dificuldade e sabendo o quanto sofreria também, nunca deixou de estar ao meu lado. E ainda assim. Ele me conquista a cada dia, com sua amizade, carinho, amor e sensibilidade de um homem de verdade, que consegue ver a minha essência e nunca se esqueceu da pessoa que conheceu há 17 anos atrás. Ele ainda sabe quem realmente sou e acredita em mim.
Tenho uma vida muito diferente da que eu tinha anteriormente, sou mais reservada, solitária, gosto de ficar com meus pensamentos. Passei a estudar filosofia e a escutar músicas mais interessantes, um mundo meio que apartado da superficialidade que vigora externamente. E apesar de ainda desejar que isso nunca tivesse me acontecido, posso dizer que foi por causa do acidente em trabalho, por causa da depressão, que me tornei quem sou hoje. Ainda não sei bem, se gosto mais de mim agora ou da que era antes; mas tenho certeza que aprecio o que me tornei. Aprecio meu amadurecimento bruto da forma que ocorreu. Consigo ver com mais detalhes o mundo hoje, e o que antes não fazia muita diferença pra mim, hoje pode ser extraordinário. Consigo ouvir os pássaros cantarolarem pela manhã, o som do mar é mais nítido, o silencio é uma benção.
Não sei como essa nova geração vai se portar diante das doenças psíquicas já que depressão é a doença do século. Adolescentes não sabem lidar muito bem com isso, e não é pra menos; normalmente na adolescência passamos por uma fase mais “emo”, mais inconformada; e uma pessoa jovem com menos de 20 anos acometida por uma doença psíquica pode ser devastador. Pessoas jogam jogos mortais. E juro não consigo entender o por quê?
Por que tantas pessoas precisam tanto da aprovação externa para se sentirem entrosados? Porque a felicidade e as amizades medem-se com um número de curtidas? Porque todos devem vestirem-se iguais e escutar as mesmas musicas? Perdeu-se a originalidade, perdeu-se a capacidade de criação. Então, talvez seja natural chegar um momento que a pessoa perde a graça em tudo ou não se entusiasma mais com o futuro. Pois, o futuro será igual ao de todas as outras pessoas.
Sempre fui uma mulher muito romântica, acreditava no príncipe encantado, ou que conheceria o amor da minha vida e morreria ao seu lado. Olhava filmes de comedia romântica, imaginando que um dia conheceria meu amor em um aeroporto, ou em um taxi numa cidade desconhecida. Fui casada por 12 anos, jurei na igreja que seria até a morte nos separar. Depois veio o divorcio. Tudo bem, sempre tive a ideia de que quando não dá não dá, e insistir é bobagem. Mas, continuei a acreditar que outro amor apareceria e que me apaixonaria, e talvez o outro fosse o que viveria pro resto da vida. Também não foi. Engraçado.... que agora isso não me importa mais. Não quero ser romântica e nem quero pensar em conhecer alguém para me apaixonar. Estou bem agora, como disse, a vida sempre encontra um jeito de nos dar um aviso ou nos mostrar alguma coisa, e agora acho que ela está se manifestando para me dizer quem é meu verdadeiro amor, a quem eu devo me aconchegar para sempre. Como disse, as coisas vão acontecendo.
E tudo que é simples, agora me atrai. O exótico é bom, o diferente me fascina, mas a simplicidade realmente me apaixona.
A depressão, de alguma forma, cria outra pessoa em nós, é uma divisão inevitável, um marco na fronteira das nossas vidas: “o antes da depressão” , o “durante a depressão” e o “depois da depressão”. Ainda almejo chegar na última divisão. Ficamos mais sábios, e agimos com mais cautela, colocamos os pingos bem devagar para não rabiscar o papel. E isso dá uma sensação de segurança incrível. Somos guiados pela paz interna, pois passamos a perceber que fazemos a escolha certa quando nosso coração fica totalmente em paz. Ficamos menos agressivos com nós mesmos e temos um cuidado exagerado para não nos ferirmos. Literalmente: nos cuidamos.
Espero que de alguma forma a medicina avance, o mundo se torne menos liquido novamente, para que pessoas não sofram com depressão, ou que exista uma vacina antidepressão Espero que mesmo as que já foram acometidas pela doença sigam em frente, e relatem suas melhoras, e se orgulhem de si por ter tentado, e mesmo que consiga subir apenas um de grau, grite vitoria, porque nessa “caminho da depressão” cada degrau é uma vitoria, pois com a força de autodestruição que essa doença muitas vezes vêem acompanhada, vencer uma etapa, por menor que seja,, já é o caminho para encontrar se encontrar a paz.