Paródia da Padecida

Faz tempo sob o nosso sol do futuro, que rebenta forte naquela promessa de sonhar amanhãs...

Coça e corrói o ralado da possibilidade de ter havido chance para pensar no possível a se fazer.

Pois como era linda nossa utopia sem nome, sem rosto e agora sem gosto, e também endereço, lá aonde não havia preço a se pagar pelas horas de consumo no expresso mais que ESSO, des-salgado óleo negro que o sangue sempre acompanhou.

Maldita ou e bendita, já não sei, mais do que lhe chamar junto, terra de fantasia tão concreta que acaba delirando de tão correta, cor-reta de retidão curvissílaba dessa já não quase ilha, do estreito sul da des-beleza fascinada com sua própria des-certeza, de que algum dia ou bem nunca dormiu ou mal nunca acordará, Brasil...

Ruge firme contra si próprio Brasil, vasto pasto de silvas eu-não-sei,

Terra imantada de virgens já transei, e convento de sanatórios ao ar livre do Atlântico Sul…

Muita gente te comenta, com isso mal sabem que nossa história a gente inventa, que a memória também tem boca e o sangue não lava mais do que os olhos têmperos da vingança. Mas olha agora filho teu, mire-se na tragédia incandescente do brasileiro, fite fundo sua des-loucura subverter a inversão do avesso através do contrário, fidalgos e salafrários, juntos pelo Desbrazil.

Disso só podia advir, da triste e dolorosa confusão que é essa terra, bicho mais manticorado que o transversado alucinante tupiniquim. Essa mistura indecifrável de esfinge tropical com quixote castrado, tese superfabulante de uma síntese sem emprego, fazendo de seu habitante ou enlouquecido infante ou psicomante de botequim.

Aproveitaram-se da distração traída desse brasileiro, que faz média com a ética, pra ver se vale a pena chegar em casa depois das seis. Ludibriaram-no com a mecânica avançada da mentira de contar verdades como se fosse mentiras, mas não esperavam que esse selenita semi-selvagem, meio civilizado e quase humano depois de tanta desumanidade entranhada, pudesse não só compreender a lógica e a técnica do desdito como ainda que aperfeiçoa-la.

Vislumbrem cidadãos do mundo, avistem esta nova invenção do brasílico-brasileiro, última de seu tempo e também de sua geração, pois daqui ou ele parte extinto ou fecha em quinto a partida no xadrez da des-versão. Danado e malandro brasileiro, inventou sua própria des-venção, conquistou sua perda num troféu de feira e acreditou em sambar macaxeira com baião.

No fundo, poucos sabem, que o desbocado cidadão brasileiro, livre de tão preso na sua mente fumegante, esconde muito mais que mostra. Aqueles que o observaram na lonjura de sua proximidade estonteante, conseguem ver o monstro que reza por debaixo de seu tapete desconsciente.

Esse encosto tenebroso e pesado, seu eterno fardo encabulado, o carrega feito prestação de esmola em novo regime escravotariado. Com muito ou pouco esforço se consegue ver como fumaça dura e intoxicante, o grau de assombração que monta ao lombo dos caminhantes brasileiros, andabundos errantes destinados aos desatinos dançantes, pra esconder a solidão feroz e o ódio sem rumo que pairam subterrâneos nas vielas e buracos profundos, raízes que o nutrem simultaneamente de amor e desespero irado, inundando a mente fina e fraca feito véu de prata, no centro nervoso da descabeça andante do brasado brasileiro.

Vermelho de raiva, cólera de si voltado contra ninguém, e por isso, contra todos e qualquer um. Finge amar ao passo que odeia, odeia aquilo que ama pra fingir que não se importa com esse ridículo auto-suicídio que programou na sua timeline às 11 de quarta, logo depois da guerra que faz todos os dias em oposição a tudo que não for igual e comum a descomunal desconfiança que tem da própria paranoia.

Voe longe brasílico-brasileiro, voe longe e não volte daqui de onde você nunca foi!

Arapuque-se como quiser, feito tatu embriagado que arrotou tanajuras desdentadas, mas sua morte, brasílico-brasileiro, pode anotar no céu que não mais olha, será lerda e quente como cupim-navalha!

Mas você é frouxo e firme como bambu velho, enverga, balança, ameaça a saber, atenta conhecer e...ABORTA, ‘ void loop()’. Bem que uma vez, ouvi vozes antigas, calhei no que me disseram e disseram bem e terrivelmente o que agora vejo cumprido. Aqui, nesses cantos do planeta o pensamento não vigora, caso sucumbe a nascer logo é arrancado com toda delicadeza mortal que exubera e exala a divertida violência que se acostumou do brasileiro. Quando de resfriado pega uma sabedoria, e dela se sabe, não diz, se diz não fala, se fala desdiz novamente, e assim recomeça a rotina insossa do vento que estocam no topo do tapa cuco desmiolado que infla o ego flácido dessa indigência pantanosa que afundam ser o Brasil-fuzil-lado a lado com a carniça.

O quanto não é o bastante? Quem lhe pagará no crédito essa vergonha perversa que endivida a triste ida do último formigueiro de ideias que coçava no bicho brasileiro?

Mas não é o suficiente! O esforço para incutir o pensar na terra do impensável data de séculos a fio, costurou-se com afinco uma fina coberta de arranjos puídos, breves acolchoados de racionalidade e tentativas de cobrir os delírios selvagens dos nativos com lógica binária.

Desde então, o perigo do pensamento sempre ronda a mente desse senhorio sem posses, a mão da reflexão quase alcança a consciência fendida da encosta abismal que desfarela sua cognição. E o assombro da lembrança fecha forte o rabo aberto dos que ouviram botas sobre-pisadas.

Não se lembra?! É claro que não, ainda é proibido lembrar...

Não esquenta, liga pra isso não que um dia passa...

A passar a passante do passo alargo que dão para o salto que de tanto assaltam, se deixou ensaiar uma coreografia de golpes.

Apaga o apagão de sua memória gente fina, e vê se não esquece que a lembrança foi revogada a tempos.

Se preocupa não sangra-bem, que daqui pra frente, pode confiar, a gente lembra pra você no seu lugar que não é mais seu, aliás, convenhamos, nunca foi né.

Senhoras e dez-senhores, vide bem outra pérola dessa des-nação, o único berço delirante que fabulou seu autoabate. Como disse já antes, se é dia ou noite no Brasil, se dorme ou acorda esse bicho desbichante que é o brasileiro, ainda não sabemos, mas podemos com nenhuma certeza agora provar o gosto amargo de seus pesadelos, através de sua máquina de guardar segredos, um aparato altamente elaborado de medida à sua falta, feito lá fora, que realiza a inédita façanha de magnetizar o desvairo tempestuoso que des-gira a bússola moral dos valores febris que des-aponta o brasileiro.

Temos o privilégio de acompanhar em primeira mão, caros antemporâneos, o maravilhoso milagre de uma revolução sem voltas, é uma tecnologia complexa e poderosa que surge a nós des-escolhidos, estamos na beira de uma revolução que se alimenta de sua própria inércia histórica, e no cume dessa imparável fernalha, assenta bege o roxo do hematoma escondido de um trauma proibido por conta da proibição da própria vida.

Não soube menina? A vida foi mais que censurada de 64 pra cá, ela foi substituída pela contradição mórbida de uma piada que ninguém mais ri. Tolera...

O nosso maior erro foi não errar mais que um vintém além de quem des-aprendeu que o ódio também nos une. Que o rosto da nossa política se entrecruza com a baixa cana de um mausoléu des-exorcizado, onde os fantasmas da velha república já estão demasiado distantes de nosso mundo des-civil, e as crias da nova não se apresentam como nada mais do que Cucos hospedeiros num sonho de verão muito louco, intitulado: ordem e progresso!