MUNDOS CIRCULARES
Quando eu te beijei pela primeira vez, no parque de diversões, sentados na roda gigante em Londres, a vida se iniciou de uma forma mais plena para nós dois. Depois daquela noite de claridade opaca, assistindo o céu do alto daquelas rodas iluminadas que giravam em torno do mesmo eixo – suspensas em duas torres verticais – os anos se passaram tão depressa, e lá no fundo a gente sabe que ainda resta alguma coisa, ainda sem nome, a qual nos prende dentro de um círculo invisível; nos fazendo girar até os nossos corpos se chocarem brutalmente. Por todas às vezes que tentamos fugir desse anel gigante, ascende-se uma lâmpada de intensidade tão forte que o não-retorno para dentro do círculo pode cegar os nossos olhos por toda a eternidade. O medo é tão intenso que a força gravitacional da lua nos empurra em direção a ela. Não se engane assim, a lua sabe de todos os segredos, e estamos, sem perceber, novamente; dentro do círculo. Dentro dessa esfera circular nossos corpos desconhecem o prazer, mas reconhecem suas partes destruídas pelo raio. Após a destruição, a poeira cósmica preservou com grande ternura: a consciência do erro que cometemos, em uma bolinha de ping pong, batendo no piso da sala sem intervalos de descanso. As nossas mãos avançaram em direção a bolinha, e o chão abriu-se em buraco negro, enquanto caímos violentamente no fundo da claridade opaca do erro, e Deus surgiu para nós, saindo de uma sala de cinema, fumando um cigarro.